Lindo, cheio de cores...e difícil de manter! Qual aquarista marinho nunca sonhou em ter um Mandarim? Apesar de ser um peixe bem resistente, o Mandarim requer cuidados específicos que nem todo mundo está pronto para dar. E esse cuidado tem a ver com a alimentação. Esse artigo irá focar especificamente nessa parte, mas lá no final também irei dar uma apanhado geral de outros parâmetros importantes para esse peixe.
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Synchiropus splendidus (Herre, 1927) |
Pequenos, porém importantes.
O Mandarim se alimenta de copépodes. Pra quem nunca ouviu falar, copépodes são micro crustáceos que vivem nas rochas e costumam aparecer no aquário depois de alguns meses de montado. Mas esses animais não surgem do nada, eles vêm “de carona” nas rochas vivas que você compra, grudados na base dos corais ou até dentro do saquinho daquele peixe que você acabou de colocar. O fato é que uma hora ou outra ele entra no seu sistema.
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copépode amplificado
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E o Mandarim, se você não foi um dos sortudos que comprou um que come ração, vive quase que exclusivamente disso.
Até aí tudo bem! Mas você deve estar se perguntando: se eles aparecem com o tempo no aquário, é só eu aguardar um pouquinho e daí posso colocar?
Quase, porque tudo tem a ver com a velocidade de reprodução desses copépodes no seu aquário. O Mandarim passa o dia inteiro procurando copépodes nas rochas, então é preciso que eles se multipliquem mais rápido do que serão consumidos. Bem lógico, não? Para isso acontecer é necessário que haja muitas rochas no seu aquário, que ele seja maduro e que preferencialmente tenha um ambiente sem predação (como um refúgio) onde os copépodes possam se reproduzir em paz sem que sejam devorados a cada minuto.
Uma regra quase simples
Para essa conta fechar, o aquário não pode ser muito pequeno, nem muito novo. Existem muitas informações divergentes, mas na média, um Mandarim requer que um aquário tenha no mínimo um ano de montado e pelo menos 200 litros de água. Alguns irão falar seis meses, outros irão falar 300, 400 litros. Esse não é o ponto. O ponto é que essa regra sintetiza o princípio de que é necessário tempo, oferta de alimento e área de superfície para que os copépodes se multipliquem e se estabeleçam. Então quanto maior o tempo de montado e maior a quantidade de rochas vivas, melhor.
Mas cuidado! Dois aquários podem ter o mesmo tamanho e tempo de montagem, mas um pode ser um sistema com refúgio, lotado de rochas, cheio de matéria orgânica e algas no vidro; ao passo em que o outro pode ser um sistema voltado para SPS, cheio de reatores, sem substrato, poucas rochas, baixíssimos níveis de nutrientes, nada de algas no vidro nem matéria orgânica sobrando. É claro que o primeiro terá mais chance de ter um boom de copépodes.
Isso se deve ao fato de que copépodes são detritívoros. Eles comem matéria orgânica decomposta, como microalgas, restos de comida, fezes, etc. Posso dizer que tem aquário que de tão lotado de sujeira já dá pra bater o olho e saber que tem copépodes aos montes por ali.
E não, não quero dizer você precisa ser desleixado como aquarista e deixar seu aquário sujo só para ter copépodes e colocar um Mandarim. Significa apenas que você precisa saber o que eles precisam e adotar uma estratégia sensata nesse sentido.
O conceito de estratégia...
Bom, até aqui já sabemos que o Mandarim requer:
Um aquário já maduro, com pelo menos um ano de montado.
Um refúgio ou muitas rochas no display para os copépodes se reproduzirem.
E que esse aquário, em média, tenha acima de 200 litros.
Esse é o “geralzão", mas a partir de agora vamos analisar as coisas um pouco mais aprofundadamente.
O Nano Reef
Eu tenho um nano de 100 litros, com dois meses de montado e quero ter um, posso?
NÃO!
Ok, não é um não definitivo, mas essa é a maneira sensata de agir. Um aquarista responsável é comprometido com a saúde e bem-estar dos seus animais, que poderiam estar muito melhor na natureza do que na sua caixa de vidro. Então se você decidiu colocá-los em uma, o mínimo que deveria fazer é dar a esses animais a melhor qualidade de vida possível.
Mas esse é apenas o mundo das ideias, na vida real a gente as vezes age por impulso, e não raro iniciantes (e até gente “das antigas”) são surpreendidos pelo fato de terem comprado um animal para só depois descobrir suas necessidades específicas. É até comum eu receber mensagens de clientes desesperados porque compraram o pobre do Mandarim para colocar em um aquário tão novo que até no Saara seria mais fácil achar um copépode.
O que fazer então?
Existem algumas alternativas:
1 – Entupir o aquário de copépodes.
Essa eu não recomendo muito. Mas você pode simplesmente jogar 3 ou 4 garrafas de copépodes no sistema e resolver o problema... por um tempo. Sim, porque se o Mandarim passa o dia beliscando a rocha, e o aquário tem poucas rochas, é uma questão de dias até que todos esses copépodes sejam devorados pelo bendito peixe.
Além do que ficar comprando garrafas de copépodes indefinidamente irá acabar com seu orçamento mensal e deixar seu/sua cônjuge muito brabo(a). Essa dica até funciona se for uma questão temporária, tipo se o peixe estiver aguardando em uma bateria ou se você está em vias de colocá-lo em um aquário mais adequado.
2 – Montar um refúgio.
Um refúgio não é difícil de fazer. Luz, macroalgas, algumas rochas vivas e um espaço no sump é tudo o que você precisa. Depois é só dar um boom de microvida ali e esperar ela se multiplique. Por ser um ambiente sem predação e com alta carga de material orgânico, o refúgio é o local ideal para a reprodução de copépodes, isópodes, amphipodes e toda a sorte de microvida. Mas nem todo mundo tem espaço no sump para isso, e se fazer um refúgio externo também não é viável, teremos que ir para a terceira solução.
3 – Ter uma cultura de copépodes.
Isso vai te dar um pouco mais de trabalho, mas não é ciência da NASA. Você vai precisar ter uma cultura de fitoplâncton para servir de alimento (dá pra fazer em garrafa de coca-cola) e arrumar umas bandejinhas para criar os copépodes. Tudo o que uma cultura dessas requer é fitoplâncton e aeração, simples assim.
Essa alternativa é a melhor de todas, pois garante que um suprimento constante de copépodes será oferecido ao peixe independentemente do tamanho do seu aquário. Só que isso depende de compromisso e responsabilidade. Lembra que falamos do nosso papel como aquarista? Então, você vai precisar se comprometer em manter essa cultura enquanto tiver esse peixe.
Em três anos de experiência como vendedor de copépodes, nunca tive nenhum feedback de cliente que fez isso e perdeu o Mandarim, mas todos eles sabiam de antemão o compromisso que teriam. E infelizmente para aquários pequenos esse compromisso será permanente, não tem outro jeito.
Se você quer saber como cultivar fitoplâncton, clique aqui.
O aquário grande, porém, novo.
Se o seu sistema atende aos requisitos mínimos de tamanho (200 litros ou mais), tem bastante rochas, mas é novo, é preciso que você dê um start nessa microvida. Nesse caso o ideal é despejar uma ou duas garrafas de copépodes no seu aquário e esperar que eles se reproduzam antes de colocar o Mandarim.
É preciso que pelo menos a ciclagem do sistema tenha sido concluída, porque antes disso pode ser que haja pouca oferta de matéria orgânica no seu aquário (isso porque não tem peixe na ciclagem, logo você não joga ração, logo não tem cocô, matéria orgânica etc...) e essa população de copépodes tenderá ao declínio.
Para aqueles que já introduziram o peixe, um “boom” inicial de três garrafas de copépodes por mês durante seis meses resolverá o problema até que seu sistema “ande sozinho”. Isso pode ficar um pouco caro (quem mandou sair colocando o peixe? rsrs), então uma alternativa é pôr a mão na massa. Coloque três garrafas de copépodes só para dar uma sobrevida inicial e concomitantemente faça sua própria cultura até que seu sistema esteja maduro. Assim como no primeiro caso, depois de seis meses você pode parar as dosagens e contar apenas com a reprodução que irá ocorrer no reef.
O aquário meio pequeno, porém maduro.
Como tinha dito lá no começo, essas regras de tamanho e tempo de montagem variam, e existem casos em que de fato fica difícil diagnosticar. O exemplo mais comum é o aquário que é bem maduro, mas está um pouco abaixo da litragem mínima. Muitos têm refúgio, rochas, são lotados de copépodes, mas estão encostados ali um pouco acima da categoria do nano reef. Aquários entre 150 a 200 litros estão nessa faixa.
Em casos assim, teremos que contar com o olho do aquarista.
Geralmente eu indico o seguinte procedimento. Coloque o peixe e comece a dosar apenas fitoplâncton com regularidade. O fito é o alimento natural dos copépodes, que apesar de serem detritívoros, se reproduzem muito mais rápido quando há microalgas presentem na água. Depois observe se a microvida que geralmente é observada está tendendo ao declínio, estabilidade ou aumento. Se sentir que você já não vê mais copépodes como antes, o jeito será adotar uma das alternativas propostas para quem tem nano reef (lá em cima). Se for o caso de estabilidade, apenas a observação constante será necessária. E no caso de aumento não há nem do que reclamar, não é mesmo?
Como saber se tem copépodes no meu aquário?
É bem simples, basta desligar todas as luzes e a circulação do seu aquário. Quando a água estiver bem parada e o ambiente escuro (é mais fácil fazer isso a noite), coloque a lanterna do seu celular na lateral do vidro e olhe pelo vidro da frente. Isso é importante porque os copépodes e alguns outros tipos de zooplâncton são parcialmente transparentes e olhar desse jeito é melhor para vê-los no reflexo da luz.
Falando em luz, os copépodes são atraídos por ela e depois de uns dois minutos você já poderá ver se alguns deles irão se concentrar perto da lanterna. Essa observação é importante de ser feita em todos os casos de tamanho e maturidade do aquário, pois assim você saberá se precisa intensificar a produção de microvida no sistema ou se a estratégia atual está dando certo.
O aquário grande, velho e cheio de rochas.
Bom, aí é só correr pro abraço! Quem pode ter um aquário grande e já tem esse sistema montado por muito tempo não tem muito o que se preocupar. É claro que estamos falando de microvida aqui, já que outros parâmetros como pH, temperatura, salinidade (dentro outros) ainda precisam ser observados. Além disso, é bom ficar atento a algumas dicas adicionais:
Dicas adicionais:
Filtragem mecânica é inimiga da microvida. Se você tem perlon e sharkbag no seu aquário, considere retirá-los e compensar essa perda com outros métodos de filtragem. Uma boa equipe de limpeza para eliminar as partículas grandes, um bom skimmer para retirar os compostos dissolvidos e macroalgas para Nitrato e Fosfato são uma boa alternativa. Existem vários métodos disponíveis, mas definitivamente para microvida a filtragem mecânica atrapalha.
Alguns remédios para tratamento de doenças podem eliminar a microvida do seu reef. Fique atento em relação a isso, pois pode ser que você precise fazer uma nova inoculação de copépodes para restabelecer esse equilíbrio.
Mesmo um aquário grande e com muitas rochas pode ter uma diminuição de microvida com o tempo. Isso pode acontecer por excesso de consumo ou diminuição da oferta de alimento. Adote uma rotina de observação semanal, mas se não há nenhum método ativo de estímulo para a reprodução de zooplâncton no seu aquário, é recomendado que de seis em seis meses uma garrafinha de copépodes seja despejada como forma de compensar esse declínio.
Além disso, do que um Mandarim precisa?
Tamanho mínimo de aquário: média de 200 litros
Temperatura: entre 24-27 °C.
pH: entre 8,1-8,4
salinidade: entre 1,023-1,025
Bom pessoal, é isso. O foco desse artigo foi a alimentação, mas procure pesquisar mais sobre esse peixe se realmente deseja tê-lo no seu sistema. Apesar dos obstáculos apresentados, o Mandarim é um peixe muito resistente quando bem cuidado.
Caso precise tirar alguma dúvida sobre se o seu sistema comporta um Mandarim, ou sobre como criar fitoplâncton e copépodes em casa, entre em contato através do e-mail academiadoaquario@gmail.com, pelo site www.academiadoaquario.com.br ou através do Whatsapp 21 98637-3126. Teremos o maior prazer de ajudar!
Até a próxima!
Rodrigo Silva.