sexta-feira, 4 de setembro de 2020

JURASSIC PARK, FITOPLÂNCTON E O SEU AQUÁRIO

 

Esse artigo está dividido entre a parte simples e a parte “complicada”. Fique à vontade para escolher qual das duas leituras você quer fazer.

Parte Simples

O alimento que alimenta todos os alimentos. 

Eu vejo muita gente mais preocupada em adicionar copépodes, rotíferos e outros tipos de zooplâncton para alimentar os peixes e corais, mas você já parou para se perguntar do que essas criaturas se alimentam? Um doce para quem disse fitoplâncton!  

Não que não seja importante dosar zooplâncton, mas para muitos aquários já maturados, esses animais já estão lá, e a adição de fito com regularidade é mais do que suficiente para causar uma verdadeira explosão de todos esses bichinhos que você gasta uma fortuna para adicionar todo mês.

 

Por que Jurassic Park e o que isso tem a ver com meu aquário?

Você deve estar curioso para saber que raios é isso de relacionar fitoplâncton com Jurassic Park. Pois bem, eu explico – o fitoplâncton foi uma das primeiras formas de vida a surgir no planeta, responsável pelo oxigênio que produzimos (70% dele) e pela evolução de todas as outras criaturas que vieram depois. Nesse sentido, dá para dizer que é um alimento “jurássico” (embora ele tenha surgido MUITO antes do período jurássico em si). Mas existe um motivo mais importante.

Dr. Hammond olhando um aquário que é alimentado com fitoplâncton

Para quem se lembra do famoso filme de 1993, em um tour pelas instalações do parque, o cientista John Hammond explica que para completar a cadeia do DNA dos dinossauros, ele precisou usar o DNA de sapos, pois o mesmo tinha muitas semelhanças com os dos animais já extintos. Eu achei essa analogia interessante, porque talvez esteja faltando algo para completar a cadeia alimentar do seu aquário. Algo que seria a chave para um crescimento mais rápido dos corais, aumento da micro-vida, melhora nas cores e redução de nutrientes. A boa notícia é que essa peça que falta não está extinta, pelo contrário, está bem viva e abundante esperando para que você faça uso dela. Pense – milhões de anos de evolução do sistema metabólico dos animais foram construídos em cima do consumo direto de fitoplâncton ou de animais que o consomem, e quando ele falta, muita gente tenta completar essa cadeia fornecendo apenas restos de ração e fezes de peixes. 

Não, esses corais não se alimentam só de fezes de peixes. 

Que tal repensarmos esse conceito e darmos um passo à frente? Lá na “gringa” essa já é uma prática comum. Entender e aplicar um conhecimento mais profundo dos mecanismos que acontecem na nossa água e ir além do básico é o segredo dos aquários espetaculares que você vê aqui no Brasil e lá fora. 

Parte “complicada”

Não ficou satisfeito com o resumo? Então vamos cavar um pouco mais. Todos os animais precisam de lipídios para que possam construir seus tecidos e para atender suas necessidades metabólicas. A maior parte dos lipídios estão na forma de esteroides, fosfolipídios e gorduras neutras. As gorduras neutras são os triglicerídeos, compostos orgânicos feitos de glicerol (como o álcool) e três moléculas de ácido graxo. Um grupo carboxilo (que é quem faz do ácido graxo um ácido) está ligado a uma extremidade de cada molécula de ácido graxo; no entanto, os ácidos graxos são hidrofóbicos (não solúveis em água) devido às ligações C-H não-polares em seus esqueletos de hidrocarbonetos. 

Complicou? Espere, que piora!

 Nos triglicerídeos, os ácidos graxos são compostos de cadeia longa. As cadeias da maioria dos ácidos graxos são não ramificadas e compostas por um número par de átomos de carbono. Essas cadeias de carbono podem variar em comprimento, mas geralmente tem entre 14-24 (e mais frequentemente 16 ou 18) “medidas de carbono”. Quando digeridas por um animal, os ácidos são decompostos por meio de uma remoção sequencial de dois “pedaços” de carbono. Como os ácidos graxos nos triglicerídeos são facilmente oxidados nos processos metabólicos, eles são potentes fontes de energia.

 Estrutura de um ácido graxo

Há cerca de duas vezes mais energia armazenada em 30 gramas de gordura do que em 30 gramas de polissacarídeos (como o amido). Mas existe uma propriedade que faz do triglicerídeo (ou qualquer gordura) especialmente fácil para um animal digerir e metabolizar – o baixo ponto de fusão. Os termos “ácidos graxos saturados” e “ácidos graxos insaturados” são usados ​​para designar as propriedades nutricionais das gorduras. As gorduras saturadas não têm ligações duplas nas cadeias de carbono, e isso torna possível que muitas moléculas de hidrogênio se liguem a elas. Em outras palavras, cada carbono na cadeia contém um par de átomos de hidrogênio; essas gorduras são “saturadas” com hidrogênio. As gorduras saturadas, que tendem a ser sólidas à temperatura ambiente, geralmente derivadas de reservas de gordura nos corpos dos animais. As gorduras insaturadas, que tendem a ser líquidas à temperatura ambiente, são geralmente derivadas de material vegetal (por exemplo, fitoplâncton). Dois ou mais átomos de carbono nestes compostos estão ligados por ligações duplas. Essas ligações duplas resultam na remoção de hidrogênio da cadeia hidrocarbonada. Assim, porque eles não estão saturados com hidrogênio, os carbonos ficam livres para se ligar com outros átomos. As cadeias de ácidos graxos são referidas como monoinsaturadas, se contiverem uma ligação dupla; e aquelas que contêm mais do que uma ligação dupla são referidas como poliinsaturados. A presença de cada dupla ligação causa uma torção na cadeia de carbono. Essas torções evitam que as moléculas de gorduras não saturadas se “empacotem” de forma apertada, o que é a razão do seu ponto de fusão ser mais baixo em comparação com as gorduras saturadas de cadeia linear. Sendo líquidas à temperatura ambiente, essas gorduras são referidas como óleos. 

Fitoplâncton rico em ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosa-hexaenóico (DHA)

Embora as gorduras insaturadas contenham apenas um pouco menos de energia armazenada em comparação com as gorduras saturadas, elas são incrivelmente importantes para alimentar a estrutura celular do animal. As membranas celulares que têm um alto teor de ácidos graxos monoinsaturados ou poliinsaturados aumentaram a fluidez dessa membrana a uma determinada temperatura. Diferentes graus de fluidez celular variam em sua permeabilidade a vários íons (por exemplo, H + e Na +). Assim, ao controlar o teor de ácidos graxos nas membranas celulares, os animais podem otimizar a eficiência dos processos metabólicos no nível celular. Esta maior fluidez torna-se muito mais importante em temperaturas mais baixas e, portanto, tem maior impacto em espécies de peixes e invertebrados que vivem em águas mais profundas ou em latitudes mais altas (o que explica por que frutos do mar que se originam de águas mais frias são mais ricos em certos ácidos graxos). Os animais não podem sintetizar certos ácidos graxos que são necessários para sua função corporal normal e, portanto, devem obtê-los através de sua dieta. Essas substâncias são conhecidas como ácidos graxos essenciais (AGEs). Os AGEs são produzidos quase que exclusivamente por plantas, mas podem se mover pela cadeia alimentar de animal para animal. Os ácidos graxos do tipo Omega estão entre os mais importantes. Estes ácidos são denominados como Omega porque indicam a localização de uma dupla ligação contada a partir da extremidade da cauda de uma corrente de carbono. “Omega” é usado porque omega (ω) está no final do alfabeto grego, e a posição de uma ligação dupla é medida a partir do fim da cadeia. Assim, os ácidos gordos ω-3 (ou n-3) são duplamente ligados ao terceiro átomo de carbono do final de suas cadeias de carbono.

 

Por que isso interessa?

 

O fitoplâncton marinho é uma fonte primária de ácidos graxos do tipo Omega-3. O ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosa-hexaenóico (DHA) são Omega-3 que são comumente encontrados em óleos marinhos. O EPA e DHA são componentes importantíssimos na dieta de praticamente todas as espécies de animais marinhos. Eles não só fornecem uma poderosa fonte de energia e materiais essenciais para certos tecidos, mas desempenham um papel em vários processos biológicos vitais. Portanto, a suplementação destes lipídios pode ter uma influência significativa na saúde geral dos animais do seu aquário; seja no caso do animal os obtiver diretamente consumindo as algas, ou mesmo indiretamente, consumindo criaturas que consumiram algas (por exemplo, copépodes).

 

Conclusão 

Convido você a fazer um teste – dose fitoplâncton vivo por um mês no seu aquário e veja a diferença. Se sentir que é melhor continuar a não dosar nada, é uma escolha sua, mas tenho certeza que essa não vai ser sua conclusão. Você irá notar mudanças extraordinárias no crescimento dos corais, tridacnas, na população de copépodes, poliquetas, esponjas, além de um enaltecimento das cores em geral. O mais provável é que você queira fazer um regime de aplicação mensal, o que terá sido um compromisso importante seu para com o seu reef. Por hoje é só, pessoal! Obrigado pela leitura! Até a próxima!

 

Fontes: https://www.algaebarn.com/fats-phytoplankton-and-aquarium-animal-health/

 

 


Um comentário:

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