sábado, 27 de março de 2021

As doenças mais comuns de peixes de aquários marinhos e como combatê-las (PARTE 1)



Estaremos, a partir de hoje, alimentando o blog com uma série de traduções sobre as principais doenças que podem acometer os peixes e a vida de um aquário marinho.
A primeira doença abordada será o Amyloodinium Ocellatum ou também conhecido como  "Marine velvet" (Veludo marinho) , "Oodinium, Amyloodiniosis", "Gold dust disease" (doença do pó de ouro), "Coral fish disease" (Doença dos peixes corais).

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Macroalgas X Rhizophora (“Talos de Mangue”)


Hipótese: Dada a textura fibrosa, seu sistema radicular e a estrutura sólida das Rhizophoras (que chamaremos daqui pra frente de talos de mangue); eles podem captar e remover mais nutrientes do que as espécies de macroalgas que conhecemos?


Introdução:

Inverter o fotoperíodo para a fotossíntese do refúgio é muito popular. É uma prática comum colocar macroalgas que possuem propriedades de extração de nutrientes nesses locais. Mais recentemente temos visto o incentivo para o uso também de talos de mangue para a mesma função. Talos de Mangue são considerados excelentes para extração de nutrientes. 

Além do que eles tem outros aspectos benéficos além das macroalgas que incluem: estabilidade (não soltam esporos durante a reprodução – Caulerpas são perigosas nesse sentido) falta de componentes químicos, requerem pouco espaço para crescer, proporcionam uma boa estrutura física para outros organismos e removem ao invés de reciclar nutrientes. apelo estético, fácil de podar e taxas de crescimento rápidas. 


Objetivo


O propósito desse estudo são basicamente dois: Primeiro os investigadores procuraram comparar o “peso seco” (que representam a extração de Nitrogênio e Fósforo) de talos de mangue e macroalgas. Segundo, o projeto foi designado para medir exatamente os nutrientes, com ênfase em comparações úteis e terminologias para aquaristas marinhos.



Revisão de Literatura

Muitos estudos tem se focado nos limites do crescimento de algas em sistemas de aquários baseados nas taxas de remoção de Nitrogênio e Fósforo  (Rosenberg e Ramus 1981, Rosenberg e Ramus 1982, Lapointe et al. 1987, Littler et al. 1991, Lapointe et al. 1992, Smith & Buddemeier 1992, Fong et al. 1994,) Um estudo importante e norteados nessa área analizou a taxa de Nitrogênio e Fósforo no tecido das algas  (Larned 1998). Estes estudos são a  base de muitos projetos anteriores e posteriores ao desse autor (Blundell 2003). 

Estudos anteriores em sistemas de cativeiro ou em aquários são difíceis de entender ou de pouco uso para aquaristas domésticos. A principal razão para esse essa dificuldade é que esses estudos oferecem medidas em gramas/dia ou  gramas / polegada linear ou peso seco / metro quadrado que são difíceis para aquaristas domésticos entenderem. Esse projeto foi uma tentativa do autor para resolver esses enigmas. 

Procedimento

Os pesquisadores pediram doações de algas e talos de mangue a aquaristas locais. Os doadores foram instruídos a doar uma “mão cheia” de algas. Enquanto isso pode soar cientificamente pobre, é o para os aquaristas é um termo bem conhecido. Portanto os dados reais são estimados, mas generalizações certamente foram feitas.

As amostras de algas (uma “mão cheia”) e talos de mangue foram recebidos. Todas as amostras foram secas e depois pesadas. Essa medida é um passo de controle e não será usada na análise final. Então as amostras foram colocadas em sacolas laminadas previamente pesadas. Nota: os talos de mangue foram primeiro  cortados em partes, divididos em caules, raízes e folhas. As sacolas foram então cozidas a 180 ºC por seis horas. 

Depois desse tempo as sacolas foram congeladas e então pesadas novamente. Isso pode permitir a pesagem do “peso seco” das amostras. Os conteúdos de cada sacola foram então retirados e pesados separados das sacolas (que também foram pesadas novamente como controle). Os pesos anteriores das amostras foram então comparados com os atuais  e eram idênticos em tamanho.


Tabela


Conclusão


Nesse estudo, descobrimos que uma “mão cheia” de Chaetomorpha e Caulerpa contém 5,7 gramas e 2,59 gramas de peso seco respectivamente. No talo de mangue (medindo 43cm e com seis folhas) pesa 10,3 gramas de peso seco. Se um aquarista doméstico conseguir crescer uma “mão cheia” de macroalgas em seu sump todo mês, isso corresponde a 34,2 gramas de Chaetomorpha e 15,54 gramas de Caolerpa. O que corresponderá a crescer 3 plantas de mangue inteiras comparando com a  Chaetomorpha ou 1,5 planta de mangue no caso da Caolerpa. E isso tudo no mesmo tempo e no mesmo aquário!!! Esse tipo de crescimento para as algas é comum, mas para os talos de mangue não tem precedentes. Portanto nossa hipótese estava errada e foi refutada nesse estudo. O ponto de vista seguido pelo autor é que o talo de mangue pode ser útil para os aquários, mas que em termos e extração de nutrientes eles são muito inferiores do que as macroalgas.


Referências



  1. Blundell, A. (2003) Measurement of macroalgae dry weights. Reef Ramblings 2003: 1-3.
  2. Fong, P., Donohoe, R.M., Zedler, J.B. (1994) Nutrient concentrations in tissue of the macroalga Enteromorpha sp. as an indicator of nutrient history: an experimental evaluation using field microcosms. Mar Ecol Prog Ser 106: 273-282.Algae2.JPG
  3. Lapointe, B.E., Littler, M.M., Littler, D.S. (1987) A comparison of nutrient-limited productivity in macroalgae from a Caribbean barrier reef and from a mangrove ecosystem. Aquat Bot 28: 243-255.
  4. Lapointe, B.E., Littler, M.M., Littler, D.S. (1992) Nutrient availability to marine macroalgae in siliciclastic versus carbonate-rich coastal waters. Estuaries 15: 75-82.
  5. Larned, S.T. (1998) Nitrogen- versus phosphorus-limited growth and sources of nutrients for coral reef macroalgae. Marine Biology 132: 409-421.
  6. Littler, M.M., Littler, D.S., Titlyanov, E.A. (1991) Comparisons of N- and P-limited productivity between high granitic islands versus low carbonate atolls in the Seychelles Archipelago: a test of the relative-dominance paradigm. Coral Reefs 10: 199-209.Algae3leaves.JPG
  7. Rosenberg, G., Ramus, J. (1981) Ecological growth strategies in the seaweeds, Gracilaria folifera (Rhodophyceae) and Ulva sp. (Chlorophyceae): the rate and timing of growth. Botanica mar 24: 583-589.
  8. Rosenberg, G., Ramus, J. (1982) Ecological growth strategies in the seaweeds, Gracilaria folifera (Rhodophyceae) and Ulva sp. (Chlorophyceae): soluble nitrogen and reserve carbohydrates. Mar Biol 66: 251-259.
  9. Smith, S.V., Buddemeier, R.W. (1992) Global change and coral reef ecosystems. A Rev ecol Syst 23: 89-118.


terça-feira, 13 de outubro de 2020

Já posso ter um Mandarim?







Lindo, cheio de cores...e difícil de manter! Qual aquarista marinho nunca sonhou em ter um Mandarim? Apesar de ser um peixe bem resistente, o Mandarim requer cuidados específicos que nem todo mundo está pronto para dar. E esse cuidado tem a ver com a alimentação. Esse artigo irá focar especificamente nessa parte, mas lá no final também irei  dar uma apanhado geral de outros parâmetros importantes para esse peixe.

Synchiropus splendidus (Herre, 1927)

Pequenos, porém importantes.


O Mandarim se alimenta de copépodes. Pra quem nunca ouviu falar, copépodes são micro crustáceos que vivem nas rochas e costumam aparecer no aquário depois de alguns meses de montado. Mas esses animais não surgem do nada, eles vêm “de carona” nas rochas vivas que você compra, grudados na base dos corais ou até dentro do saquinho daquele peixe que você acabou de colocar. O fato é que uma hora ou outra ele entra no seu sistema.

copépode amplificado

E o Mandarim, se você não foi um dos sortudos que comprou um que come ração, vive quase que exclusivamente disso. 

Até aí tudo bem! Mas você deve estar se perguntando: se eles aparecem com o tempo no aquário, é só eu aguardar um pouquinho e daí posso colocar? 

Quase, porque tudo tem a ver com a velocidade de reprodução desses copépodes no seu aquário. O Mandarim passa o dia inteiro procurando copépodes nas rochas, então é preciso que eles se multipliquem mais rápido do que serão consumidos. Bem lógico, não? Para isso acontecer é necessário que haja muitas rochas no seu aquário, que ele seja maduro e que preferencialmente tenha um ambiente sem predação (como um refúgio) onde os copépodes possam se reproduzir em paz sem que sejam devorados a cada minuto.


Uma regra quase simples


Para essa conta fechar, o aquário não pode ser muito pequeno, nem muito novo. Existem muitas informações divergentes, mas na média, um Mandarim requer que um aquário tenha no mínimo um ano de montado e pelo menos 200 litros de água. Alguns irão falar seis meses, outros irão falar 300, 400 litros. Esse não é o ponto. O ponto é que essa regra sintetiza o princípio de que é necessário tempo, oferta de alimento e área de superfície para que os copépodes se multipliquem e se estabeleçam. Então quanto maior o tempo de montado e maior a quantidade de rochas vivas, melhor.

Mas cuidado! Dois aquários podem ter o mesmo tamanho e tempo de montagem, mas um pode ser um sistema com refúgio, lotado de rochas, cheio de matéria orgânica e algas no vidro; ao passo em que o outro pode ser um sistema voltado para SPS, cheio de reatores, sem substrato, poucas rochas, baixíssimos níveis de nutrientes, nada de algas no vidro nem matéria orgânica sobrando. É claro que o primeiro terá mais chance de ter um boom de copépodes.

Isso se deve ao fato de que copépodes são detritívoros. Eles comem matéria orgânica decomposta, como microalgas, restos de comida, fezes, etc.  Posso dizer que tem aquário que de tão lotado de sujeira já dá pra bater o olho e saber que tem copépodes aos montes por ali.

E não, não quero dizer você precisa ser desleixado como aquarista e deixar seu aquário sujo só para ter copépodes e colocar um Mandarim. Significa apenas que você precisa saber o que eles precisam e adotar uma estratégia sensata nesse sentido.


O conceito de estratégia...


Bom, até aqui já sabemos que o Mandarim requer:

Um aquário já maduro, com pelo menos um ano de montado.

Um refúgio ou muitas rochas no display para os copépodes se reproduzirem.

E que esse aquário, em média, tenha acima de 200 litros.


Esse é o “geralzão", mas a partir de agora vamos analisar as coisas um pouco mais aprofundadamente.


O Nano Reef


 Eu tenho um nano de 100 litros, com dois meses de montado e quero ter um, posso?

NÃO!

Ok, não é um não definitivo, mas essa é a maneira sensata de agir. Um aquarista responsável é comprometido com a saúde e bem-estar dos seus animais, que poderiam estar muito melhor na natureza do que na sua caixa de vidro. Então se você decidiu colocá-los em uma, o mínimo que deveria fazer é dar a esses animais a melhor qualidade de vida possível.

Mas esse é apenas o mundo das ideias, na vida real a gente as vezes age por impulso, e não raro iniciantes (e até gente “das antigas”) são surpreendidos pelo fato de terem comprado um animal para só depois descobrir suas necessidades específicas. É até comum eu receber mensagens de clientes desesperados porque compraram o pobre do Mandarim para colocar em um aquário tão novo que até no Saara seria mais fácil achar um copépode.

O que fazer então?

Existem algumas alternativas:

1 – Entupir o aquário de copépodes.

Essa eu não recomendo muito. Mas você pode simplesmente jogar 3 ou 4 garrafas de copépodes no sistema e resolver o problema... por um tempo. Sim, porque se o Mandarim passa o dia beliscando a rocha, e o aquário tem poucas rochas, é uma questão de dias até que todos esses copépodes sejam devorados pelo bendito peixe. 

Além do que ficar comprando garrafas de copépodes indefinidamente irá acabar com seu orçamento mensal e deixar seu/sua cônjuge muito brabo(a). Essa dica até funciona se for uma questão temporária, tipo se o peixe estiver aguardando em uma bateria ou se você está em vias de colocá-lo em um aquário mais adequado.

2 – Montar um refúgio.

Um refúgio não é difícil de fazer. Luz, macroalgas, algumas rochas vivas e um espaço no sump é tudo o que você precisa. Depois é só dar um boom de microvida ali e esperar ela se multiplique. Por ser um ambiente sem predação e com alta carga de material orgânico, o refúgio é o local ideal para a reprodução de copépodes, isópodes, amphipodes e toda a sorte de microvida. Mas nem todo mundo tem espaço no sump para isso, e se fazer um refúgio externo também não é viável, teremos que ir para a terceira solução.

3 – Ter uma cultura de copépodes.


Isso vai te dar um pouco mais de trabalho, mas não é ciência da NASA. Você vai precisar ter uma cultura de fitoplâncton para servir de alimento (dá pra fazer em garrafa de coca-cola) e arrumar umas bandejinhas para criar os copépodes. Tudo o que uma cultura dessas requer é fitoplâncton e aeração, simples assim. 

Essa alternativa é a melhor de todas, pois garante que um suprimento constante de copépodes será oferecido ao peixe independentemente do tamanho do seu aquário. Só que isso depende de compromisso e responsabilidade. Lembra que falamos do nosso papel como aquarista? Então, você vai precisar se comprometer em manter essa cultura enquanto tiver esse peixe. 

Em três anos de experiência como vendedor de copépodes, nunca tive nenhum feedback de cliente que fez isso e perdeu o Mandarim, mas todos eles sabiam de antemão o compromisso que teriam. E infelizmente para aquários pequenos esse compromisso será permanente, não tem outro jeito.

Se você quer saber como cultivar fitoplâncton, clique aqui.





O aquário grande, porém, novo.


Se o seu sistema atende aos requisitos mínimos de tamanho (200 litros ou mais), tem bastante rochas, mas é novo, é preciso que você dê um start nessa microvida. Nesse caso o ideal é despejar uma ou duas garrafas de copépodes no seu aquário e esperar que eles se reproduzam antes de colocar o Mandarim. 

Copépodes da Academia do Aquário


É preciso que pelo menos a ciclagem do sistema tenha sido concluída, porque antes disso pode ser que haja pouca oferta de matéria orgânica no seu aquário (isso porque não tem peixe na ciclagem, logo você não joga ração, logo não tem cocô, matéria orgânica etc...) e essa população de copépodes tenderá ao declínio.

Para aqueles que já introduziram o peixe, um “boom” inicial de três garrafas de copépodes por mês durante seis meses resolverá o problema até que seu sistema “ande sozinho”. Isso pode ficar um pouco caro (quem mandou sair colocando o peixe? rsrs), então uma alternativa é pôr a mão na massa. Coloque três garrafas de copépodes só para dar uma sobrevida inicial e concomitantemente faça sua própria cultura até que seu sistema esteja maduro. Assim como no primeiro caso, depois de seis meses você pode parar as dosagens e contar apenas com a reprodução que irá ocorrer no reef.


O aquário meio pequeno, porém maduro.


Como tinha dito lá no começo, essas regras de tamanho e tempo de montagem variam, e existem casos em que de fato fica difícil diagnosticar. O exemplo mais comum é o aquário que é bem maduro, mas está um pouco abaixo da litragem mínima. Muitos têm refúgio, rochas, são lotados de copépodes, mas estão encostados ali um pouco acima da categoria do nano reef. Aquários entre 150 a 200 litros estão nessa faixa. 

Em casos assim, teremos que contar com o olho do aquarista. 

Geralmente eu indico o seguinte procedimento. Coloque o peixe e comece a dosar apenas fitoplâncton com regularidade. O fito é o alimento natural dos copépodes, que apesar de serem detritívoros, se reproduzem muito mais rápido quando há microalgas presentem na água. Depois observe se a microvida que geralmente é observada está tendendo ao declínio, estabilidade ou aumento. Se sentir que você já não vê mais copépodes como antes, o jeito será adotar uma das alternativas propostas para quem tem nano reef (lá em cima). Se for o caso de estabilidade, apenas a observação constante será necessária. E no caso de aumento não há nem do que reclamar, não é mesmo?


Como saber se tem copépodes no meu aquário?  

É bem simples, basta desligar todas as luzes e a circulação do seu aquário. Quando a água estiver bem parada e o ambiente escuro (é mais fácil fazer isso a noite), coloque a lanterna do seu celular na lateral do vidro e olhe pelo vidro da frente. Isso é importante porque os copépodes e alguns outros tipos de zooplâncton são parcialmente transparentes e olhar desse jeito é melhor para vê-los no reflexo da luz. 

Falando em luz, os copépodes são atraídos por ela e depois de uns dois minutos você já poderá ver se alguns deles irão se concentrar perto da lanterna. Essa observação é importante de ser feita em todos os casos de tamanho e maturidade do aquário, pois assim você saberá se precisa intensificar a produção de microvida no sistema ou se a estratégia atual está dando certo.


O aquário grande, velho e cheio de rochas.


Bom, aí é só correr pro abraço! Quem pode ter um aquário grande e já tem esse sistema montado por muito tempo não tem muito o que se preocupar. É claro que estamos falando de microvida aqui, já que outros parâmetros como pH, temperatura, salinidade (dentro outros) ainda precisam ser observados. Além disso, é bom ficar atento a algumas dicas adicionais:


Dicas adicionais:

Filtragem mecânica é inimiga da microvida. Se você tem perlon e sharkbag no seu aquário, considere retirá-los e compensar essa perda com outros métodos de filtragem. Uma boa equipe de limpeza para eliminar as partículas grandes, um bom skimmer para retirar os compostos dissolvidos e macroalgas para Nitrato e Fosfato são uma boa alternativa. Existem vários métodos disponíveis, mas definitivamente para microvida a filtragem mecânica atrapalha.

Alguns remédios para tratamento de doenças podem eliminar a microvida do seu reef. Fique atento em relação a isso, pois pode ser que você precise fazer uma nova inoculação de copépodes para restabelecer esse equilíbrio.

Mesmo um aquário grande e com muitas rochas pode ter uma diminuição de microvida com o tempo. Isso pode acontecer por excesso de consumo ou diminuição da oferta de alimento. Adote uma rotina de observação semanal, mas se não há nenhum método ativo de estímulo para a reprodução de zooplâncton no seu aquário, é recomendado que de seis em seis meses uma garrafinha de copépodes seja despejada como forma de compensar esse declínio.


Além disso, do que um Mandarim precisa?


Tamanho mínimo de aquário: média de 200 litros 

Temperatura: entre 24-27 °C. 

pH: entre 8,1-8,4 

salinidade:  entre 1,023-1,025


Bom pessoal, é isso. O foco desse artigo foi a alimentação, mas procure pesquisar mais sobre esse peixe se realmente deseja tê-lo no seu sistema. Apesar dos obstáculos apresentados, o Mandarim é um peixe muito resistente quando bem cuidado. 

Caso precise tirar alguma dúvida sobre se o seu sistema comporta um Mandarim, ou sobre como criar fitoplâncton e copépodes em casa, entre em contato através do e-mail academiadoaquario@gmail.com, pelo site www.academiadoaquario.com.br ou através do Whatsapp 21 98637-3126. Teremos o maior prazer de ajudar!


Até a próxima!


Rodrigo Silva.









Os Incríveis Amphipodes

 

Taxonomia: Filo: Arthropoda - Subfilo: Crustacea - Classe: Malacostraca  

Superordem: Peracarida - Ordem: Amphipoda 


Os Amphipodes são minúsculos crustáceos que são da família dos camarões e carangueijos. Eles lembram bastante pequenos camarões. Existem cerca de 9900 espécies de amphipodes descobertas, até a hora em que esse artigo estava sendo escrito. Você pode encontrar esses animais em água doce, salgada e em aquários marinhos. Assim como os copépodes eles podem ser encontrados em diferentes profundidades nos oceanos. 

Muitos animais se alimentam de amphipodes, e por causa disso eles possuem hábitos de se esconder. Pássaros e diferentes tipos de peixes se alimentam de amphipodes para sobreviver. Você pode encontrar essas criaturas debaixo de rochas, agarrados a algas marinhas (preferencialmente as em decomposição).

Quando estão em época de acasalamento, os machos agarram as fêmeas entre suas patas. E quando se reproduzem, as fêmeas carregam por um tempo os filhotes em uma pequena bolsa, como um canguru!

Quando adultos, se tornam mais bênticos (ficam mais no fundo do tanque, aderidos à algas ou substratos).A maioria das espécies tem hábitos alimentares noturnos (aparentemente uma forma de evitar a predação), por isso, se seu objetivo é tentar colonizar seu aquário com essas criaturas, a recomendação é que a cepa seja dosada ao apagar das luzes do aquário. 

A diferença crucial entre amphipodes e copépodes é seu tamanho. Enquanto copépodes mal chegam aos 1mm de comprimento,  amphipodes  adultos tem o tamanho médio de  5mm podendo chegar até 1cm.

Benefício dos Amphipodes em um aquário

Muitas pessoas se perguntam: “os amphipodes são realmente úteis para o aquário marinho?”

A resposta é SIM!

Os amphipodes são prejudiciais? Realmente não. Eles são bons para o sistema, pois controlam algas marrons e são detritívoros, ou seja, se alimentam de matéria orgânica em decomposição.

Além de serem excelente algívoros (se alimentam de algas), amphipodes podem ser uma excelente escolha para peixes de boca maior, embora os filhotes menores também possam algumas vezes ser capturados por peixes de boca pequena, como os Mandarins.

Em questão de alimentação, são altamente nutritivos, sendo excelentes fontes de ômega 3, um ácido graxo essencial que provém diretamente de algas (saiba mais sobre ácidos graxos essenciais aqui), além de muitas outras vitaminas e elementos que provém uma dieta mais saudável para seus peixes. 

Amphipodes da Academia do Aquário


domingo, 11 de outubro de 2020

Quem tem medo do Verme de Fogo?

 



Quando se trata de microfauna, principalmente de equipe de limpeza, os conhecidos paguros, snails, pepinos e ofiúrius são muito aclamados. Mas existe uma variedade de animais que podem ser benéficos ao sistema e que infelizmente pouco são observados, principalmente em aquários nacionais.
Uma dessas espécies é o temido “Verme de fogo”. Este animal, ganhou esse nome, pois possui cerdas irritantes, que por vezes machucam a mão de aquaristas mais desavisados.
O Verme de fogo, pertence ao filo dos anelídeos e à classe das poliquetas. Algumas espécies conhecidas de verme de fogo são  Hermodice, Eurythoe, Chloeia e Amphinome. 
 Amphinome

Chloeia

Eurythoe

Hermodice


Esses animais possuem hábitos detritívoros, o que significa que se alimentam da sujeira que pode ficar acumulada no fundo de seu substrato por exemplo. 

Falando bem

O trecho abaixo foi retirado do artigo “ Nitrogen Cycling Revisited: Sand, critters, carbon, and why you may be under-feeding your tank” do site Reefs.com:

“Bichinhos na lama”

Para mim, um dos aspectos mais fascinantes do hobby de aquário não são os animais que eu compro e adiciono ao meu sistema, são os ocupantes não intencionados, os ocupantes que acabam no meu aquário porque foram transportados nas compras ou que vieram de carona na rocha viva original. No entanto, a importância desses organismos vai além da simples curiosidade: esses organismos são normalmente responsáveis por um par de processos intrinsecamente relacionados que desempenham um papel central no ciclo do nitrogênio: bioturbação e bioirrigação. Embora esses dois sejam processos tecnicamente distintos, são quase impossíveis de se separar um do outro e geralmente são realizados simultaneamente pelos mesmos organismos.

Última idéia de Darwin


Embora certamente menos conhecida do que sua teoria da evolução, a bioturbação como um fenômeno foi, na verdade, descrita pela primeira vez por Charles Darwin em um de seus últimos trabalhos (Meysman et al. 2006). Em , "bioturbação" é o termo para a ação coletiva de organismos escavadores que causa ou aumenta a mistura física de sedimentos. Relacionado a isso está a "bioirrigação", que é o termo para qualquer ventilação ativa de abrigos ou sedimentos circundantes pelos organismos que vivem dentro deles. Juntos, esses processos desempenham um papel vital nos sistemas costeiros e bentônicos, a ponto de tais organismos serem considerados "engenheiros do ecossistema", organismos cuja presença tem um efeito formativo no ecossistema ao seu redor (Jones et al. 1994).

Uma das maneiras mais importantes pelas quais essas infaunas (organismos que vivem nos sedimentos) estruturam seu ambiente é a formação de abrigos no interior dos sedimentos (veja exemplos na figura 3). Essas tocas representam um aumento dramático na área superficial de interface entre água-sedimento (SWI, em inglês), a superfície através da qual são trocados solutos como o nitrogênio entre o sedimento e a água suprajacente. Esse processo de troca é conhecido como acoplamento bêntico-pelágico e serve como uma importante via de “comunicação” entre as águas costeiras e os sedimentos que servem como filtro natural. Mais importante, essas estruturas de refúgio geralmente se estendem para dentro da zona anóxica e, portanto, servem como importantes fontes de oxigênio para serem usadas na nitrificação. Mais abaixo no ciclo do nitrogênio, a presença de zonas oxicais (oxic zones) causadas por tocas em sedimentos anóxicos estimula o que é chamado de "desnitrificação acoplada" (“coupled denitrification”), que é simplesmente a desnitrificação que é "alimentada" por nitrato que acaba de ser gerado na nitrificação (Kristensen et al. 1987).

Além de simplesmente estender a área da superfície para troca difusiva, a irrigação ativa de tocas freqüentemente fornece oxigênio e nitrato para serem usados tanto na nitrificação quanto na desnitrificação a uma taxa muito mais rápida do que a difusão molecular (Henriksen et al. 1983 Huettel 1990, entre muitos outros). Isso pode resultar em taxas de desnitrificação que são ordens de magnitude superiores às dos sedimentos "áridos", e esses organismos podem de fato ser responsáveis pela recuperação do ecossistema após períodos de eutrofização de nitrogênio (Bartoli et al. 2000). Em uma base mais física, a ação de organismos bioirrigantes e bioturbantes pode realmente controlar a composição física do sedimento (Volkenborn et al. 2007), impedindo o tipo de “entupimento” que muitas vezes é levantado como um possível problema de longo prazo em leitos de areia.

Bioturbação no aquário doméstico


Embora a grande maioria dos organismos bio turbantes estudados seja relativamente grande e improvável de ser encontrada no aquário (como o lugworm, Arenicola marina, com a qual muitos aquaristas europeus podem estar familiarizados do mar de Wadden), existem vários organismos responsáveis pela mistura de sedimentos e formação de tocas que podem ser encontrados no aquário doméstico. As principais dentre estas são as numerosas espécies de poliquetas que geralmente podem ser encontradas escavando ativamente na maioria dos aquários (a Figura 3 tem um exemplo). Sim, acredite ou não, esses vermes que muitos de nós um dia tememos, podem realmente ser responsáveis por melhorar a remoção de nitrato de nossos sistemas!

Outro grupo de organismos responsáveis pela bioturbação no aquário doméstico são os anfípodes. De fato, grandes tocas de anfípodes geralmente podem ser vistas contra o vidro do aquário (veja a Figura 3 para um possível exemplo), e esses organismos podem ser responsáveis por mover grandes volumes de água através de suas cavidades à medida que a ventilam para fornecer oxigênio . Infelizmente, atualmente há pouco ou nenhum estudo direto sobre bioturbação no aquário doméstico, mas não há razão para acreditar que ela não desempenhe um papel tão importante aquário doméstico quanto na natureza. Na verdade, é bem possível que um fator que leva à estabilidade de um aquário maduro seja o desenvolvimento de uma população saudável de infauna de sedimentos. Além disso, uma possível explicação para a “síndrome do tanque antigo” é o declínio da população de infauna, com um declínio subsequente nas taxas de nitrificação e desnitrificação. É claro que, neste momento, essa explicação possível é apenas especulação e precisaria de experimentação rigorosa para ir além da conjectura.

Uma coisa que eu ainda não mencionei é o papel da bioirrigação dentro da rocha viva. Embora a natureza sólida da rocha impeça a bioturbação (mistura) de desempenhar qualquer tipo de papel, os organismos que vivem dentro da rocha viva ainda devem ventilar as tocas para fornecer oxigênio, para que possam ter os mesmos efeitos que seus parentes que vivem no leito de areia. Infelizmente, a bioirrigação dentro de estruturas sólidas, como rochas vivas, é totalmente não investigada, embora isso forneça uma área interessante de possível estudo. O que temos, no entanto, é a observação de que nossos sistemas parecem amadurecer e se estabilizar ao mesmo tempo em que populações de poliquetas e microcrustáceos se tornam bem estabelecidas e visíveis tanto na rocha viva quanto na areia.


Figura 3: Evidência de bioturbação no aquário doméstico. A imagem de cima mostra um verme poliqueta dentro de sua toca e a inferior mostra vários traços de toca, incluindo uma que se estende até a zona anóxica (visto como sedimento mais escuro, embora o uso de areia preta pelo autor torne difícil ver).


Em resumo: Vermes de fogo são componentes importantes para “remexer” o substrato (principalmente para aquários com camadas altas de substrato) e evitar as temidas zonas anóxicas, que levam o sitema ao “crash”.

Mas por que então tanta gente tem medo deles?


 Não é difícil numa rápida passagem pela internet, achar artigos condenando essas criaturas. E esse temor tem um motivo: vermes de fogo, além de serem detritívoros também possuem características predadoras. E quanto maior o verme, maior a sua possibilidade de caça. 
Outro fator que apavora muitos aquaristas , são as suas cerdas urticantes, que podem se fixar em peixes ou até mesmo na mão do próprio aquarista causando um belo desconforto (vem daí o apelido “verme de fogo”).
Para evitar que isso aconteça, o ideal é sempre que for mexer nas suas rochas ou substrato, prestar bem atenção onde coloca a mão e evitar “apertar” o local. Mesmo que seu sistema aparentemente seja livre de vermes de fogo, eles podem estar escondidos embaixo de alguma rocha ou coral, pois são organismos resistentes e “caronas” comuns em rochas vivas. 
Se a sua preocupação é evitar acidentes, uma opção é deixar os vermes de fogo no refúgio, lugar onde eles poderão juntamente com a equipe de limpeza, fazer um bom trabalho de faxina, removendo toda a matéria orgânica em excesso. 
Um dos mitos é de que os vermes de fogo se multiplicarão, se tornando uma “praga” no aquário. Ora, se esses animais são detritívoros, um aquarista com o mínimo de preocupação com a qualidade da água não deve se preocupar com isso.

Tamanho importa

Um vídeo esclarecedor, sobre quais espécies são benéficas ou não ao sistema está abaixo:
Fonte: Indo Pacific Sea Farm.

Em outros países, é muito comum a comercialização desses pequenos animais, como um “start” à biota do aquário. 

Em resumo, a opção de ter ou não vermes de fogo no sistema é puramente do aquarista. 


Vermes de assustar

Como bônus, vamos apresentar uma espécie  de poliqueta que realmente é de assustar! O chamado “Verme Bobbit”:
Eles podem chegar a incríveis 3m de comprimento, e capturam facilmente peixes bem grandinhos!




Esse sim é um verme assustador não é? 


sábado, 10 de outubro de 2020

Precisamos falar de alimentação - PARTE 3

 


Ciliados e rotíferos

Embora os rotíferos e os ciliados sejam pequenos e desinteressantes para a maioria, eles são bem conhecidos pelo aquaristas como opção de alimento para a criação de filhotes de peixes e muitos invertebrados. Estas quase microscópicas criaturas sobrevivem de várias formas, desde filtragem até espécies que comem outros rotíferos / ciliados.
A maioria dos peixes mais populares em aquário (e isso inclui grande parte das borboletas, anjos e budiões, só pra citar alguns) eclodem de ovos tão pequenos que suas bocas só são largas o bastante para engolir criaturas muito pequenas. 
Pesquisas voltadas para o estudo da alimentação de larvas de peixes revelaram que sua dieta é composta por micro-zooplanctons, como protozoários (tintinídeos, ciliados e foraminíferas), dinoflagelados, larvas de cirripedias, larvas de moluscos, além de náuplios e ovos de copépodes (Holt 2003). Diatomáceas planctônicas também fazem parte do cardápio, e geralmente representam 5% do total ingerido.
O intestino de larvas coletadas no oceano contém uma variedade desses microplânctons, com cada um medindo de 3 a 100 μm de comprimento, e com a maioria do conteúdo sendo menor do que 60 μm (Holt 2003). 
Logo, os pequenos filhotes de peixes são simplesmente muito pequenos para comer até mesmo um pequeno ovo de artêmia (geralmente um ovo de artêmia é 5 vezes maior do que o maior zooplâncton encontrado no intestino de uma larva). Sendo assim, fontes menores de alimento, como rotíferos e ciliados são necessários caso você queira obter sucesso ao criar seus filhotes.
O tamanho reduzido e o enorme potencial reprodutivo dos rotíferos ( e em menor grau ciliados) faz deles uma escolha popular como alimentação entre criadores de  invertebrados e peixes marinhos. Por exemplo, sob condições ideais, uma única fêmea de rotífero geralmente produz cerca de 6 filhotes fêmeas por dia e cada uma delas cresce e começa a produzir a sua própria prole (a reprodução mais comum entre esses animais é a partenogênese e fêmeas produzem filhotes assexuais sem a necessidade de seus ovos serem fertilizados) dentro de 24 horas.  Nessa taxa de crescimento, um simples rotífero pode dar origem a aproximadamente 134.455  descendentes em 7 dias! Obviamente,  não é necessário muitos rotíferos para começar e manter uma cultura viável que alimente seu aquário ou projeto de cultura de larvas de peixes. O tamanho reduzido dos rotíferos juntamente com a facilidade relativa com a qual eles são cultivados, e a taxa de reprodução elevada fazem desses animais uma escolha popular para alimentar muitos animais marinhos com alimentação suspensa obrigatória. 
Apesar dessa minúsculas criaturas serem fáceis de se criar e de terem o tamanho correto para a maioria das larvas de peixes, infelizmente não são muito nutritivos.  De fato,  a única maneira de fazer deles um meio razoável de alimentação para peixes juvenis e invertebrados marinhos é através de seu enriquecimento.  Eu pensei que Martin Moe (Moe) tem uma das melhores analogias para isso que eu já vi: rotíferos são equivalentes a uma sacola de compras, você pode comê-los, mas se estiverem vazios eles não serão nutritivos.
Rotíferos da Academia do Aquário.
Criados exclusivamente à base de Fitoplâncton, o que garante o fornecimento de todos os ácidos graxos essenciais para a alimentação de larvas de peixes. 



 Se os rotíferos foram cultivados a base de farinha de ervilha e fermento biológico eles poderão crescer , mas não fornecerão muita nutrição para peixes juvenis. De fato, na maior parte dos casos, larvas de peixes que se alimentam exclusivamente de rotíferos simples (que não são enriquecidos com Fitoplâncton ou um suplemento comercial de HUFA) não são bem sucedidos em seu estágio larval (e.g., Moe 1997; Wilkerson 2001; revisado por Holt 2003). 
Rotíferos que são alimentados com uma dieta pobre podem ser comparados a humanos que se alimentam exclusivamente de batata frita, refrigerante e doces. Se alimentar assim pode ser  bem apetitoso, mas não muito nutritivo e se essa for sua  única alimentação disponível sua saúde não se manterá por muito tempo. Em contramão, rotíferos cultivados com fitoplâncton e enriquecidos com suplementos de ácidos graxos (HUFA) são potencialmente muito nutritivos.
 Para fazer uma analogia mais real para você, descobertas mostram que larvas de "Barbatana do pacífico" (Pacific threadfin/Polydactylus sexfilis) que são criadas à base de dieta com rotíferos enriquecidos possuem uma alta significativa de sobrevivência em resposta a vários fatores estressantes do que seus irmãos que foram criados com dietas de rotíferos pobres (Tamaru et al. 1998).

Pacific threadfin/ Polydactylus sexfilis


Contudo, só pra deixar as coisas mais complicadas, acontece que você não pode simplesmente despejar um monte de rotíferos em um tanque e chama-los de comida: é de longo conhecimento que a proporção entre as larvas de peixe e suas presas em um tanque faz uma enorme diferença na taxa de sobrevivência e crescimento dos animais (e.g., Houde 1977; revisado by Tamaru et al. 2003).  
Por exemplo, pesquisas descobriram que larvas de peixe inicialmente se alimentam do que encontram pelo caminho, mas começam a caçar a medida em que vão se desenvolvendo. Apesar de parecer contra-intuitivo, verifica-se que o crescimento e a sobrevivência pode ser drasticamente reduzido por falta OU excesso de comida! O experimento revelou que a taxa mais elevada de sobrevivência e crescimento das larvas de peixe era obtida mantendo uma taxa de aproximadamente 10 rotíferos por milímetro para densidades entre 25 a 50 larvas de peixe por litro (Tamaru et al. 1991).
Apesar disso soar como um monte de besteiras para alguns leitores, aquicultores e criadores domésticos de peixes descobriram muitos anos atrás que rotíferos podem crescer bem com um conjunto completo de alimentos (variando de fitoplâncton à farinha de ervilha e “alimentos invertebrados” à base de fermento e até ao suco V-8!)
 Pode parecer que suco de legumes seja uma base bem nutritiva, mas não para os rotíferos que alimentarão seus peixes juvenis!

Mas apesar de você ter um monte de rotíferos na sua cultura, eles terão uma atuação ruim quando usados para alimentar peixes juvenis. Muitos artigos de várias revistas de aquarismo tem reportado sucesso na desova de peixes marinhos através dos anos, mas até os 5 últimos anos, a maioria deles também reportatam uma massiva perda das larvas de peixe dentro de uma semana ou mais após eles começarem a se alimentar (e.g., Moe 1997; Wilkerson 2001; revisado por Holt 2003). 
 Até a presente data, a única grande dificuldade de se manter larvas de peixes marinhos em cativeiro consiste na primeira alimentação, o período que a larva do peixe deixa de usar suas reservas internas de gema e passa a capturar presas plantônicas  (revisado por Holt 2003). 
"Peixe-palhaço" (Amphiprion ocellaris). O sucesso da reprodução desse peixe em cativeiro deve-se às descobertas sobre alimentação enriquecida na fase larval. 

Como eu expliquei acima, rotíferos não enriquecidos podem ser aceitos por algumas larvas de peixe, mas mesmo “bem alimentadas” elas apresentam uma redução do crescimento e sobrevivência quando comparadas as suas “irmãs” que são alimentadas com rotíiferos enriquecidos (Tamaru et al. 1998). O método de enriquecimento mais comum é o feito com Selcon ou Zoecon. 

Suplemento para enriquecer alimentos vivos. 
Apesar disso, pesquisas descobriram que a sobrevivência média de rotíferos que são enriquecidos com essa emulsão lipídica concentrada é bem baixa: depois de 24 horas de enriquecimento, o número de rotíferos na cultura caiu de uma média de 2000/ml para 400/ml  (Tamaru et al. 2003).  Em contraste, rotíferos enriquecidos com uma pasta de algas se manteve em 2000/ml durante o processo de enriquecimento. Então, embora esses produtos concentrados de HUFA funcionem muito bem para enriquecer itens alimentares para peixes maiores, eles não parecem particularmente funcionar tão bem para rotíferos.  Obviamente o método de enriquecimento também desempenha um papel importante na disponibilidade de alimentos adequados para peixes marinhos. 
No geral, rotíferos enriquecidos com fitoplâncton e HUFA parecem ser um alimento adequado para diversas espécies de peixes marinhos juvenis, e várias espécies que foram cultivadas com sucesso pela primeira vez quando alimentadas com plâncton enriquecido como rotíferos. (revisado por Watanabe et al. 1983).
Fitoplâncton da Academia do Aquário. 
Ideal para enriquecer sua cultura de rotíferos. 


OK, então isso é provavelmente mais informação do que a maioria das pessoas sabe sobre quaisquer dessas fontes de alimento. E não eu pararei por aqui por hora. Nas próximas seções continuaremos nossa discussão sobre alimentação com Artêmias, Tubifex e Black Worms, Crustáceos de água doce, Larvas de mosquito e Macroaldas, Nori e Vegetais folhosos.


Imagens retiradas de:

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

domingo, 4 de outubro de 2020

Precisamos falar sobre alimentação - PARTE 1


Infelizmente, poucos aquaristas aqui no Brasil conseguem manter um aquário com alguns peixes considerados difíceis, como o Cooperband e Zanclus. Parte disso é que existe uma falta de atenção quando o assunto é alimentação.


Alimentar um tanque não é só dar ração aos peixes. Seu aquário é um universo composto de diversas criaturas, e cada uma delas tem uma particularidade quando o assunto é nutrição. 


Só para ilustrar, sabe aquela água meio turva que a gente tanto se esforça para limpar? Então, ela contém animais minúsculos e plânctons nos quais muitos serem se alimentam delas.


Não que não devêssemos filtrar a água, mas esses seres são fundamentais para a dieta de corais, poliquetas, tridacnas, esponjas e outras criaturas que vivem no seu reef. Sendo assim, devemos ficar atentos para que nenhuma delas morra de fome na sua água super hiper mega cristalina!


Mesmo que você tenha um fish-only, cada peixe possui necessidades diferentes e muitas vezes algumas espécies consideradas “difíceis” são na verdade extremamente resistentes, apenas estão sendo alimentadas de maneira errada.


 Ok, então vamos tomar um tempo para discutir toda a gama de alimentos que mantém um recife de coral próspero na natureza e discutir as opções para fornecer alguns desses mesmos alimentos no seu aquário.

Nota: Esta série de artigos sobre alimentação será dividida em algumas partes. Será  uma sequência de artigos fracionados. Alguns links destacados complementam o assunto, e podem ter ligação interna ou externa a esse blog.

Dito isso, vamos falar de comida. Existem duas preocupações principais quando o assunto é alimentação: 1). As partículas têm o tamanho certo para serem comidas? 2) A comida possui os valores nutricionais necessários para manter o animal saudável?

Obviamente que se a comida é grande demais para o animal comer, o valor nutricional não vai fazer diferença. Por outro lado, sendo esta do tamanho certo, de nada adiantará se a comida for pobre em nutrientes. Então devemos levar ambas as coisas em consideração.

Você deve estar se perguntando “Como a comida pode ser grande demais? Os peixes podem simplesmente ir tirando uns pedacinhos até ficarem satisfeitos. ” Bom, isso pode ser verdade para os peixes, que no geral tem mandíbulas fortes, mas isso não se aplica a um tridacna, ou a um coral SPS ou uma poliqueta, por exemplo.

Para estes tipos de animais, e na verdade para todos os animais filtrantes, se a comida não vem do tamanho certo, eles podem morrer de fome, independentemente da quantidade que você ponha.

Por outro lado, tentar alimentar uma Garoupa Panther com Artêmia salina vai dar no mesmo resultado – fome. Então, embora nós raramente nos preocupemos com o tamanho da comida, isto é criticamente importante para a maioria dos animais.

Vamos então olhar uma lista dos alimentos mais fáceis de serem encontrados no mercado. Essa lista pode parecer um pouco aleatória à princípio, mas existe um motivo para a ordem de cada item, já que cada tipo de alimento introduz um conceito que será resgatado lá na frente. No fim, iremos listar os prós e contras de cada tipo. Por hora, vamos falar do tamanho e do valor nutricional.

Fitoplâncton

“Em Oceanografia, biologia marinha e Limnologia chama-se fitoplâncton (ou chacolnario, nome cientifico) o conjunto dos organismos aquáticos microscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando na coluna d’água” (Wikipédia). Então, os fitos são, de forma grosseira, pequenas plantinhas flutuantes. Eles fazem parte da cadeia alimentar, servido de alimento para pequenos organismos, que depois são comidos por outros maiores e por aí vai. Muitos corais se alimentam diretamente de fitoplâncton.


Fitoplâncton da espécie Nannochloropsis ampliado 400X

Na verdade, mesmo que um animal não se alimente diretamente dele, ainda assim a maioria come pequenos animais, que comeram outros pequenos animais, que comeram fitoplâncton. Daí já podemos ver o quanto importante essa alga é na cadeia alimentar.

O tamanho do fitoplâncton varia de 2-20 microns (um mícron é a milésima parte de um milímetro) e eles são a fonte primária de alimentação de muitos invertebrados marinhos.

"Embora existam muitos animais vendidos em fóruns e lojas que dependem exclusivamente de fitoplâncton, este tipo de alimento provavelmente é o menos comum no cardápio do aquário."

Exemplo, se você possui poliquetas, pepinos, mexilhões e ostras (estes dois últimos são raros em aquários, eu sei) não dá para confiar que o resto de comida que você dá aos seus peixes vai ser suficiente para alimentá-los. Isso pode até segurar, mas com o tempo, você irá notar o desaparecimento destes seres.

Embora muito pequeno para ser comido por peixes, o fitoplâncton é fundamental na nutrição desses animais, por quê? Porque as algas, especialmente o fito, possuem nutrientes nos quais os peixes não podem sintetizar por conta própria, mas são importantíssimos para a saúde.


“Two Little Fishies Phytoplan” ( Haematococcus pluvialis & outros) ampliado em 400X

Os animais precisam de uma certa quantidade de ácidos graxos poli-insaturados na dieta, mas dois deles são os mais importantes – os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, que são componentes estruturantes da membrana celular, e particularmente importantes no desenvolvimento dos olhos, nervos e tecido cardíaco (mais detalhes sobre isso mais a frente).

A diferença entre um tipo e outro é irrelevante (os nomes denotam a estrutura química), o importante é saber que esses ácidos são importantes para o crescimento, desenvolvimento e para o sistema imunológico dos seus peixes (e do seu também!).

O ômega 6 é primariamente fornecido por fontes animais, enquanto o ômega 3 deriva principalmente de plantas. Embora o ômega-6 seja geralmente fornecido muito além de sua necessidade, porque as gorduras animais são mais comumente incluídas nas rações comerciais, o ômega-3 frequentemente falta na dieta de ambos os seres humanos e animais de estimação, e a razão entre o ômega-6 e o ômega-3 mais abundante é tipicamente 4 ou 5 (e às vezes tão alta como 25) vezes mais do que seria na natureza.

Como os ácidos graxos não podem ser convertidos de uma estrutura básica para o outra, um equilíbrio adequado de ambas as classes é importante para a saúde e o desenvolvimento adequado de todos os animais, embora os requisitos nutricionais exatos variem de acordo com a espécie (infelizmente a maioria desses valores não é conhecida para espécies de aquários).

Ok, você pode já ter ouvido sobre a importância do ômega 3 para os humanos na TV, agora vamos explicar o porquê dele também precisar estar presente na dieta do seu peixe. Os dois tipos de ômega 3 mais importantes são os HUFA – (highly unsaturated fatty acids) dos tipos ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosa-hexaenoico (DHA)

Estes são sintetizados quase que exclusivamente por algas marinhas. Na verdade, um dos grandes avanços na reprodução comercial de peixes foi a descoberta de que os HUFAs são uma parte essencial da dieta e que sem eles, deficiências e mal desenvolvimento são problemas comuns.


“Kent Marine Phytoplex” (Tahitian blend) ampliado em 400X

Por exemplo, a Artêmia é um alimento simples e facilmente cultivado para alimentar larvas de muitos organismos marinhos, mas porque esses seres geralmente não possuem quantidades suficientes de EPA e DHA, a maioria dos peixes recém-nascidos alimentados exclusivamente com artêmias começam a morrer dentro de uma semana ou menos (você já passou por isso?).

O sucesso da cultura e reprodução de várias espécies só ocorreu depois da descoberta da importância de incluir esses ácidos graxos na dieta. O DHA se mostrou importante no crescimento e desenvolvimento do sistema nervoso central e, em particular, do cérebro, olhos e órgãos reprodutivos, enquanto a EPA se mostrou importante para a saúde cardiovascular e desempenha um papel essencial em certas respostas imunes.

Entre os sintomas comuns de deficiência de EPA / DHA em animais marinhos estão 1) Síndrome do susto repentino (tradução livre) – choque, convulsão ou mesmo morte quando os animais estão assustados; 2) baixa visão e capacidade reduzida de localizar presas; 3) barbatanas desgastadas ou misteriosamente erosivas; 4) taxas de crescimento precárias ou mortes súbitas durante o desenvolvimento inicial; 5) baixa viabilidade do ovo ou infertilidade; 6) altas taxas de mortalidade e doença, particularmente quando sob estresse (por exemplo, transporte ou aclimatação) e 7) incapacidade de curar-se adequadamente após serem feridos.

Ao “enriquecer” os alimentos como a Artemia com fitoplâncton antes de alimentá-los aos peixes, a quantidade de EPA e DHA é aumentada ao ponto em que as mortes e os problemas de desenvolvimento citados desaparecem completamente.

E existem várias maneiras de obter o benefício nutricional do “fito”. Como acabei de mencionar, você pode enriquecer alimentos vivos alimentando-os com fitoplâncton durante algumas horas antes de fornecê-los aos peixes. No entanto, isso não é tão fácil com alimentos mortos ou congelados, então uma outra opção é usar um suplemento líquido à base de HUFA para adicionar aos seus alimentos secos / mortos.

Então, mesmo que seu peixe não coma fitoplâncton, espero ter conseguido convencê-lo de que a nutrição fornecida por essas “plantinhas” é, em no mínimo, extremamente importante para a saúde dos habitantes do seu aquário.

Existem vários desses produtos no mercado (por exemplo, Selcon, Zoecon, etc.), e você deve ser capaz de localizar alguns nas melhores lojas nacionais ou lojas “gringas” que entregam no Brasil.

O enriquecimento tem tido tanto sucesso que todos os aquicultores que eu conheço usam fitoplâncton ou um suplemento líquido de HUFA como parte de sua rotina de alimentação regular.

  A importância do uso do F2






O F2, ou fórmula Guillard, é um fertilizante específico para o crescimento de microalgas. Ele contém na proporção certa os elementos necessários para auxiliar o processo de fotossíntese e sintetização das substâncias que são necessárias para os animais. Neste artigo, explicamos melhor as propriedades e a importância de dosar o fertilizante correto na sua cultura de Fitoplâncton. 

      

Pessoal, essa foi a primeira parte da série sobre alimentação. Em breve postaremos a continuação. Obrigado pela leitura e te esperamos de volta! 😀


F2 (Fórmula Guillard) da academia do Aquário

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Nota: Este conteúdo foi originalmente publicado pela revista Advanced Aquarist, no texto: “Aquarium Invertebrates: Nutritional Value Of Live Foods For The Coral Reef Aquarium, Part 1”, escrito por: “Rob Toonen”. Link: http://www.advancedaquarist.com/2003/12/inverts A tradução desse conteúdo não é literal. O tradutor tomou a liberdade de contextualizar algumas frases para a realidade brasileira, bem como adicionou/ suprimiu alguns trechos consideradas irrelevantes para a compreensão do assunto de maneira geral. O objetivo sempre é dar acesso ao conteúdo da maneira mais simples e prática possível, no entanto, sem perder a essência do conhecimento passado. Embora o texto seja revisado antes da postagem repetidas vezes, o mesmo sempre estará passível de erros. Dessa forma, humildemente peço que me informem nos comentários qualquer alteração a ser feita, para que eu possa corrigi-la o mais breve possível.


Att, Rodrigo


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