Infelizmente, poucos aquaristas aqui no Brasil conseguem manter um aquário com alguns peixes considerados difíceis, como o Cooperband e Zanclus. Parte disso é que existe uma falta de atenção quando o assunto é alimentação.
Alimentar um tanque não é só dar ração aos peixes. Seu aquário é um universo composto de diversas criaturas, e cada uma delas tem uma particularidade quando o assunto é nutrição.
Só para ilustrar, sabe aquela água meio turva que a gente tanto se esforça para limpar? Então, ela contém animais minúsculos e plânctons nos quais muitos serem se alimentam delas.
Não que não devêssemos filtrar a água, mas esses seres são fundamentais para a dieta de corais, poliquetas, tridacnas, esponjas e outras criaturas que vivem no seu reef. Sendo assim, devemos ficar atentos para que nenhuma delas morra de fome na sua água super hiper mega cristalina!
Mesmo que você tenha um fish-only, cada peixe possui necessidades diferentes e muitas vezes algumas espécies consideradas “difíceis” são na verdade extremamente resistentes, apenas estão sendo alimentadas de maneira errada.
Ok, então vamos tomar um tempo para discutir toda a gama de alimentos que mantém um recife de coral próspero na natureza e discutir as opções para fornecer alguns desses mesmos alimentos no seu aquário.
Nota: Esta série de artigos sobre alimentação será dividida em algumas partes. Será uma sequência de artigos fracionados. Alguns links destacados complementam o assunto, e podem ter ligação interna ou externa a esse blog.
Dito isso, vamos falar de comida. Existem duas preocupações principais quando o assunto é alimentação: 1). As partículas têm o tamanho certo para serem comidas? 2) A comida possui os valores nutricionais necessários para manter o animal saudável?
Obviamente que se a comida é grande demais para o animal comer, o valor nutricional não vai fazer diferença. Por outro lado, sendo esta do tamanho certo, de nada adiantará se a comida for pobre em nutrientes. Então devemos levar ambas as coisas em consideração.
Você deve estar se perguntando “Como a comida pode ser grande demais? Os peixes podem simplesmente ir tirando uns pedacinhos até ficarem satisfeitos. ” Bom, isso pode ser verdade para os peixes, que no geral tem mandíbulas fortes, mas isso não se aplica a um tridacna, ou a um coral SPS ou uma poliqueta, por exemplo.
Para estes tipos de animais, e na verdade para todos os animais filtrantes, se a comida não vem do tamanho certo, eles podem morrer de fome, independentemente da quantidade que você ponha.
Por outro lado, tentar alimentar uma Garoupa Panther com Artêmia salina vai dar no mesmo resultado – fome. Então, embora nós raramente nos preocupemos com o tamanho da comida, isto é criticamente importante para a maioria dos animais.
Vamos então olhar uma lista dos alimentos mais fáceis de serem encontrados no mercado. Essa lista pode parecer um pouco aleatória à princípio, mas existe um motivo para a ordem de cada item, já que cada tipo de alimento introduz um conceito que será resgatado lá na frente. No fim, iremos listar os prós e contras de cada tipo. Por hora, vamos falar do tamanho e do valor nutricional.
Fitoplâncton
“Em Oceanografia, biologia marinha e Limnologia chama-se fitoplâncton (ou chacolnario, nome cientifico) o conjunto dos organismos aquáticos microscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando na coluna d’água” (Wikipédia). Então, os fitos são, de forma grosseira, pequenas plantinhas flutuantes. Eles fazem parte da cadeia alimentar, servido de alimento para pequenos organismos, que depois são comidos por outros maiores e por aí vai. Muitos corais se alimentam diretamente de fitoplâncton.
Fitoplâncton da espécie Nannochloropsis ampliado 400X
Na verdade, mesmo que um animal não se alimente diretamente dele, ainda assim a maioria come pequenos animais, que comeram outros pequenos animais, que comeram fitoplâncton. Daí já podemos ver o quanto importante essa alga é na cadeia alimentar.
O tamanho do fitoplâncton varia de 2-20 microns (um mícron é a milésima parte de um milímetro) e eles são a fonte primária de alimentação de muitos invertebrados marinhos.
"Embora existam muitos animais vendidos em fóruns e lojas que dependem exclusivamente de fitoplâncton, este tipo de alimento provavelmente é o menos comum no cardápio do aquário."
Exemplo, se você possui poliquetas, pepinos, mexilhões e ostras (estes dois últimos são raros em aquários, eu sei) não dá para confiar que o resto de comida que você dá aos seus peixes vai ser suficiente para alimentá-los. Isso pode até segurar, mas com o tempo, você irá notar o desaparecimento destes seres.
Embora muito pequeno para ser comido por peixes, o fitoplâncton é fundamental na nutrição desses animais, por quê? Porque as algas, especialmente o fito, possuem nutrientes nos quais os peixes não podem sintetizar por conta própria, mas são importantíssimos para a saúde.
“Two Little Fishies Phytoplan” ( Haematococcus pluvialis & outros) ampliado em 400X
Os animais precisam de uma certa quantidade de ácidos graxos poli-insaturados na dieta, mas dois deles são os mais importantes – os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, que são componentes estruturantes da membrana celular, e particularmente importantes no desenvolvimento dos olhos, nervos e tecido cardíaco (mais detalhes sobre isso mais a frente).
A diferença entre um tipo e outro é irrelevante (os nomes denotam a estrutura química), o importante é saber que esses ácidos são importantes para o crescimento, desenvolvimento e para o sistema imunológico dos seus peixes (e do seu também!).
O ômega 6 é primariamente fornecido por fontes animais, enquanto o ômega 3 deriva principalmente de plantas. Embora o ômega-6 seja geralmente fornecido muito além de sua necessidade, porque as gorduras animais são mais comumente incluídas nas rações comerciais, o ômega-3 frequentemente falta na dieta de ambos os seres humanos e animais de estimação, e a razão entre o ômega-6 e o ômega-3 mais abundante é tipicamente 4 ou 5 (e às vezes tão alta como 25) vezes mais do que seria na natureza.
Como os ácidos graxos não podem ser convertidos de uma estrutura básica para o outra, um equilíbrio adequado de ambas as classes é importante para a saúde e o desenvolvimento adequado de todos os animais, embora os requisitos nutricionais exatos variem de acordo com a espécie (infelizmente a maioria desses valores não é conhecida para espécies de aquários).
Ok, você pode já ter ouvido sobre a importância do ômega 3 para os humanos na TV, agora vamos explicar o porquê dele também precisar estar presente na dieta do seu peixe. Os dois tipos de ômega 3 mais importantes são os HUFA – (highly unsaturated fatty acids) dos tipos ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosa-hexaenoico (DHA).
Estes são sintetizados quase que exclusivamente por algas marinhas. Na verdade, um dos grandes avanços na reprodução comercial de peixes foi a descoberta de que os HUFAs são uma parte essencial da dieta e que sem eles, deficiências e mal desenvolvimento são problemas comuns.
“Kent Marine Phytoplex” (Tahitian blend) ampliado em 400X
Por exemplo, a Artêmia é um alimento simples e facilmente cultivado para alimentar larvas de muitos organismos marinhos, mas porque esses seres geralmente não possuem quantidades suficientes de EPA e DHA, a maioria dos peixes recém-nascidos alimentados exclusivamente com artêmias começam a morrer dentro de uma semana ou menos (você já passou por isso?).
O sucesso da cultura e reprodução de várias espécies só ocorreu depois da descoberta da importância de incluir esses ácidos graxos na dieta. O DHA se mostrou importante no crescimento e desenvolvimento do sistema nervoso central e, em particular, do cérebro, olhos e órgãos reprodutivos, enquanto a EPA se mostrou importante para a saúde cardiovascular e desempenha um papel essencial em certas respostas imunes.
Entre os sintomas comuns de deficiência de EPA / DHA em animais marinhos estão 1) Síndrome do susto repentino (tradução livre) – choque, convulsão ou mesmo morte quando os animais estão assustados; 2) baixa visão e capacidade reduzida de localizar presas; 3) barbatanas desgastadas ou misteriosamente erosivas; 4) taxas de crescimento precárias ou mortes súbitas durante o desenvolvimento inicial; 5) baixa viabilidade do ovo ou infertilidade; 6) altas taxas de mortalidade e doença, particularmente quando sob estresse (por exemplo, transporte ou aclimatação) e 7) incapacidade de curar-se adequadamente após serem feridos.
Ao “enriquecer” os alimentos como a Artemia com fitoplâncton antes de alimentá-los aos peixes, a quantidade de EPA e DHA é aumentada ao ponto em que as mortes e os problemas de desenvolvimento citados desaparecem completamente.
E existem várias maneiras de obter o benefício nutricional do “fito”. Como acabei de mencionar, você pode enriquecer alimentos vivos alimentando-os com fitoplâncton durante algumas horas antes de fornecê-los aos peixes. No entanto, isso não é tão fácil com alimentos mortos ou congelados, então uma outra opção é usar um suplemento líquido à base de HUFA para adicionar aos seus alimentos secos / mortos.
Então, mesmo que seu peixe não coma fitoplâncton, espero ter conseguido convencê-lo de que a nutrição fornecida por essas “plantinhas” é, em no mínimo, extremamente importante para a saúde dos habitantes do seu aquário.
Existem vários desses produtos no mercado (por exemplo, Selcon, Zoecon, etc.), e você deve ser capaz de localizar alguns nas melhores lojas nacionais ou lojas “gringas” que entregam no Brasil.
O enriquecimento tem tido tanto sucesso que todos os aquicultores que eu conheço usam fitoplâncton ou um suplemento líquido de HUFA como parte de sua rotina de alimentação regular.
A importância do uso do F2
O F2, ou fórmula Guillard, é um fertilizante específico para o crescimento de microalgas. Ele contém na proporção certa os elementos necessários para auxiliar o processo de fotossíntese e sintetização das substâncias que são necessárias para os animais. Neste artigo, explicamos melhor as propriedades e a importância de dosar o fertilizante correto na sua cultura de Fitoplâncton.
Pessoal, essa foi a primeira parte da série sobre alimentação. Em breve postaremos a continuação. Obrigado pela leitura e te esperamos de volta! 😀
F2 (Fórmula Guillard) da academia do Aquário
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Nota: Este conteúdo foi originalmente publicado pela revista Advanced Aquarist, no texto: “Aquarium Invertebrates: Nutritional Value Of Live Foods For The Coral Reef Aquarium, Part 1”, escrito por: “Rob Toonen”. Link: http://www.advancedaquarist.com/2003/12/inverts A tradução desse conteúdo não é literal. O tradutor tomou a liberdade de contextualizar algumas frases para a realidade brasileira, bem como adicionou/ suprimiu alguns trechos consideradas irrelevantes para a compreensão do assunto de maneira geral. O objetivo sempre é dar acesso ao conteúdo da maneira mais simples e prática possível, no entanto, sem perder a essência do conhecimento passado. Embora o texto seja revisado antes da postagem repetidas vezes, o mesmo sempre estará passível de erros. Dessa forma, humildemente peço que me informem nos comentários qualquer alteração a ser feita, para que eu possa corrigi-la o mais breve possível.
Att, Rodrigo
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