sábado, 12 de setembro de 2020

O guia definitivo de reprodução de fitoplânton

Atualizado em 23/04/2021


Apresentação


"Olá, amigos e amigas! Primeiramente gostaria de agradecer seu tempo por estar lendo este manual. Seu interesse por aprender ou mesmo sua simples curiosidade contribuem para que o nível do hobby aqui no Brasil seja cada vez maior.

Neste pequeno guia eu irei descrever o mínimo necessário para que você consiga cultivar fitoplâncton em casa. Esse guia foi simplificado para atender um espectro maior de pessoas. No entanto, o artigo original, mais específico e que faz jus ao título de "guia definitivo", ainda existe em PDF e pode ser solicitado pelo e-mail academiadoaquario@gmail.com

Espero que essa leitura lhe agrade e peço para que não hesite em nos contatar em caso de qualquer dúvidas, beleza? Nosso whatsapp é 21 98637 3126. Forte abraço!

Att, Rodrigo Silva."


Vantagens do fitoplâncton

A dosagem de fitoplâncton no seu aquário irá proporcionar uma maior abertura dos corais (especialmente corais moles), aumento de cores, maior crescimento no médio prazo, explosão de microvida (como copépodes) e um aspecto mais saudável de uma maneira geral do seu reef.  

Através do fitoplâncton você pode começar outras culturas de microvida também, como copépodes e rotíferos.



O excedente da sua produção de fitoplâncton também pode ser trocado por mudas de corais, peixes ou até mesmo vendido. 

Parte 1 - Direto ao ponto.


 


Agora que você já sabe as vantagens de dosar fitoplâncton, vamos direito ao ponto. Você irá precisar dos seguintes ítens para fazer o cultivo (figura 1):


(Figura 1) 1 - garrafa de 500ml de fitoplâncton ; 2 - garrafa pet 2 litros; 3 - tubo rígido; 4 - bombinha de ar; 5 - mangueira de silicone; 6 - seringa de 10ml; 7 - fertilizante de fitoplâncton (f/2); 8 - divisor de ar; 9 - lâmpada fluorescente de 20w


Um aviso importante! Esse tutorial foi escrito com a premissa de que o fitoplâncton usado está descontaminado, e o F/2 (fertilizante específico para o crescimento de microalgas) é original

Existem fórmulas caseiras mais simples, com apenas três compostos (diferente dos doze compostos do F/2 original), mas que não irão garantir a mesma qualidade nutricional das substâncias produzidas pelo fitoplâncton. Portanto minha recomendação é sempre optar pela formulação original do F/2!

A Academia do Aquáiro comercializa um kit com todos os ítens acima, e mais duas garrafas contendo zooplâncton vivo (copépodes e rotíferos) que também podem ser cultivados na sua casa.

O kit pode ser adquirido clicando na imagem abaixo:


Já tem todos os itens? Então antes de começar, guarde o fitoplâncton e o fertilizante (f/2) na geladeira (sem congelar). 

Ok, agora faça um furo na tampinha da garrafa para a passagem do tubo rígido. O furo precisa ser um pouco (só um pouco) mais largo do que o diâmetro do tubo para que o ar possa sair (figura 2).





(Figura 2) Tampinha com furo para o tubo rígido


Preparo da água.


Acredite em mim, o fitoplâncton contamina fácil! Bactérias e outros microrganismos competem pelo consumo do fertilizante (f/2) e nós não queremos isso na cultura. Infelizmente seu filtro RO/DI de cinco estágios é ineficiente para matar bactérias, então vamos precisar ferver a água para que ela fique efetivamente estéril

Para isso, arrume uma panela com tampa, limpe bem, depois prepare 1,5 litros de água na densidade de 1020º. Qualquer marca de sal de aquário serve, ok? 

Depois que a água começar a ferver, aguarde mais cinco minutos e desligue o fogo. Faça todo o procedimento com tampa, pois senão haverá alteração da salinidade por evaporação. 

Aguarde a água esfriar até a temperatura ambiente (sem tirar a tampa).

Enquanto a água esfria, vamos limpar os acessórios.


O princípio da contaminação aqui é o mesmo. Devemos esterilizar tudo que vai entrar em contato com o fitoplâncton: garrafa, tubo rígido, mangueira de ar, seringa e a tampa da garrafa. Se der para ferver, ferva esses itens por vinte minutos (figura 3). 

(Figura 3) O que resiste à fervura deve ser fervido: tubos rígidos, mangueiras de ar, seringas, tampas da garrafa e divisores de ar.




Nota: Se estiver usando uma garrafa pet comum, ferver vai fazer ela deformar (figura 4). Nesse caso, é possível enxaguar bem a garrafa com água da torneira, depois adicionar 100ml de cloro, completar com água e aguardar meia hora. Depois jogue o líquido fora, enxague com água da torneira de novo (para remover o excesso de cloro) e por fim dê um último enxague com água esterilizada (que pode ser água que foi fervida, porém já resfriada; ou água destilada) para remover os resquícios de água da torneira. 

(figura 4) Não é uma boa ideia ferver uma garrafa pet



Colocando a água.


A essa altura, a água com sal que você ferveu lá no começo ainda deve estar quente, mas já não tão quente ao ponto de deformar a garrafa. Então podemos começar a montagem da estrutura. Encha a garrafa com 1,5 litros da água salgada. Se precisar de um funil para esta tarefa, ferva antes! O esquema abaixo ilustra como fica a montagem (figura 5). 


(figura 5) Montagem inicial

Simples, não? Por causa da fervura, o pH da água sobe muito, o que pode causar um choque no fitoplâncton e matar a cultura. Por isso iremos deixar essa água aerando por seis horas para que o pH volte ao normal. Esse tempo também serve para que a água esfrie de vez até a temperatura ambiente. 

Não precisa por a luz nem o nutriente por enquanto.

Nota: Aproveitando os hábitos atuais, procure usar máscara e higienizar muito bem as mãos que irão tocar os tubos rígidos, tampas, etc. O objetivo aqui é não jogar pelo ralo a esterilização que foi feita.


Colocando o fito


Ok, quase lá. Agora vamos introduzir o fitoplâncton. Uma hora antes, tire a garrafa de fito da geladeira para aclimatá-la à temperatura ambiente. Não mexa no f/2 por enquanto, mas já prepare um pouco de água fervente para esterilizar a seringa que usaremos em breve (exceto se a seringa for nova). 

Muito cuidado aqui, pois o procedimento precisa ser rápido: Tire a tampa da garrafa da cultura e coloque 500ml (ou 250ml, se for fazer duas culturas) de fitoplâncton lá dentro, fechando a tampa logo em seguida (figura 6). 

E mais uma vez, caso for usar um funil....ferva.

Agora vá até a geladeira, pegue a garrafinha de f/2 e use a seringa esterilizada para puxar 2ml do fertilizante. Dose o fertilizante na garrafa da cultura.

Nota: Essa dosagem justifica-se porque a proporção usada é de 1ml de fertilizante para cada litro total de cultura. Ou seja, se temos dois litros totais (água + fitoplâncton), iremos colocar 2ml de fertilizante. 

Não caia na tentação de colocar mais f/2 do que o necessário, pois isso pode acabar prejudicando a cultura.




(Figura 6) - Inoculação do fitoplâncton e dosagem do fertilizante (f/2)




Agora coloque a luz. Você pode usar um abajur pra isso ou então fixar um bocal na parede, tanto faz. Use uma lâmpada fluorescente de 20W 6500K ou uma de LED 9W 6500K

Essa potência é a mesma que costumamos usar nos ambientes da nossa casa, tipo sala e quarto. É importante que seja uma luz branca (luz do dia).

A luz deve ficar entre 15cm a 20cm de distância da garrafa e o fotoperíodo recomendado é de 16 horas de luz e 8 horas de escuro (figura 7). Um timer pode ajudar muito. 

Não use a luz do sol para iluminar a garrafa.

(figura 7) Esquema em sua montagem final






Pronto! Você já tem sua cultura de fitoplâncton! No primeiro dia é possível que você não veja muita diferença. A água começará com um tom esverdeado claro, quase como um chá, mas naturalmente vai concentrar com o passar dos dias.


(Figura 8) Evolução da cultura com os dias



Dica: Compare sempre a concentração da sua cultura sob a luz e não com elas apagadas. Recomendo tirar fotos diariamente para conseguir comparar mais facilmente.

Durante esse tempo, não há necessidade de dosar mais f/2, ok? 

A colheita


Normalmente, se tudo der certo, você poderá coletar seu fitoplâncton entre o quinto e o sétimo dia. Não há matemática aqui, o que vale é você tirar um fito mais concentrado do que tinha no início, e esse ponto de concentração é "no olho". Se preferir, use como referência de cor a garrafa que você comprou. Além disso, algumas culturas irão evoluir mais rápido que outras, acontece.

Porém, não leve mais do que sete dias para dividir a cultura, pois um fitoplâncton que está há muito tempo "rodando" fica velho e começa a perder sua capacidade nutricional. 

O procedimento da colheita é simples. 

Abra a garrafa e retire o fitoplâncton.

Você pode guardar em outra garrafa não esterilizada se o objetivo for dosar no seu aquário ou usar como alimento em outras culturas de zooplâncton. Basta deixar fechadinho e guardado na geladeira por até 90 dias.

E para continuar sua cultura, você pode repor com água nova a mesma quantidade de fito que retirou, fazendo uma nova dosagem de f/2 logo em seguida, o que irá recomeçar o ciclo. 

Nota: Eu sempre recomendo guardar uma porção desse fitoplâncton para que você tenha de onde recomeçar caso perca sua cultura por algum motivo. Só tome o cuidado de guardar esse fito em uma garrafa esterilizada e bem lacrada, ok?


(Figura 9) Garrafa de 500ml de fitoplâncton da espécie Nannochloropsis Oculata, uma das mais usadas em aquicultura. É importante usar um fitoplâncton não contaminado para iniciar sua cultura.



Quem consome?





É sabido que um recife de corais é um grande consumidor de fitoplâncton. A concentração de fito nesse meio é entre 15 a 65% menor do que a concentração em mar aberto. Mas em termos de aquarismo, os grandes consumidores são:

  • Corais moles (soft corals)
  • Tridacnas
  • Copépodes
  • Rotíferos
  • Tunicatos
  • Esponjas
  • Poliquetas
(Figura 10) Corais moles consomem fitoplâncton na natureza



Nota: Experimentos indicam que alguns corais duros (SPS) são capazes de ingerir fitoplâncton. Mas ingerir não significa digerir. É bem improvável que o fitoplâncton seja parte fundamental da dieta dos SPS, já que eles não costumam se alimentar por filtragem da mesma maneira que os softs. 

No entanto, os SPS irão se beneficiar do aumento de zooplâncton (ex: copépodes) causado pela dosagem do fito, fechando assim o ciclo de alimentação de todos os tipos de corais que você tem no seu aquário.

Como dosar?


Já adianto que essa é uma pergunta impossível de responder com exatidão. A quantidade de seres consumidores de fitoplâncton por metro cúbico em um aquário é muito maior do que no oceano. Pra piorar, cada sistema é composto por corais e invertebrados diferentes. Um aquário cheio de corais moles (softs), esponjas e com um refúgio cheio de copépodes vai ter um consumo muito maior do que um aquário exclusivo de SPS e sem substrato. 

(Figura 11) Dosando fitoplâncton



Em regra, como linha de partida, recomenda-se a dosagem de 15ml para cada 100 litros de água do aquário (descontando as rochas e substrato), três vezes por semana. A partir daí vai contar o olho (ou "feeling") do aquarista. Como o sistema está respondendo? Houve aumento da microvida? Os corais estão mais abertos, mais vívidos? De acordo com essas respostas o aquarista poderá ajustar sua dosagem para mais ou para menos. Algumas pessoas veem resultados imediatos; outras, não. 

A dica é: paciência. 

Comece com a dosagem padrão e ajuste com o tempo se necessário. É interessante ficar de olho nos seus níveis de nutriente também. Uma dosagem muito exagerada poderá aumentar o nitrato e fosfato e causar problemas com algas indesejáveis.

Nota: Desligue o skimmer e o filtro UV (caso tenha) por 20 minutos para dar tempo do fitoplâncton ser absorvido pelos animais.

Além do método de diluição acima, você também pode fazer uma dosagem direcionada através de uma seringa ou pipeta. Nesse caso dose em cima de animais que irão consumir o fito (veja a lista acima). Em caso de dúvida, pesquisa sobre as necessidades nutritivas específicas do seu animal. 

Lembrando que dosando com pipeta não é necessário desligar nenhum equipamento. O lado ruim desse método é que, apesar de ser uma dosagem mais direcionada, dá um pouco mais de trabalho e você vai ter que constantemente colocar o braço dentro da água, o que não é muito legal de ficar fazendo a todo momento.

Um terceiro método consiste em dosar o fitoplâncton exclusivamente no refúgio (caso você tenha) para proporcionar um aumento na microvida nesse local. Aqui não há uma dosagem certa, apenas dose o suficiente para a água ganhar um tom levemente esverdeado. Deixe apenas a circulação ligada (desligue o skimmer) por 30 minutos e faça isso todos os dias. Você irá notar um "boom" de microvida no seu refúgio em aproximadamente duas semanas.

(Figura 12) - Copépodes se multiplicam no refúgio ao se alimentarem de fitoplâncton e detritos.



Nota: Esse método vale para refúgios que já estão em funcionamento. Caso esteja montando o seu agora e queira fazer a inoculação da microvida, é possível adquirir o kit de start aqui.
 



(Figura 13) O ciclo do fitoplâncton no seu aquário

 

Pessoal, acho que por hoje é só. Existe muito mais a ser dito sobre o cultivo de microalgas, mas um manual excessivamente grande e técnico logo de cara assusta muita gente. Além disso, essa versão mais simples serve mais para dar uma ideia geral do que será preciso fazer. 

Posso garantir que vale muito a pena a experiência. Fazer seu próprio alimento vivo irá te colocar em um patamar acima do aquarismo e o aprendizado será extremamente edificante.

Para aqueles que se perguntaram como criar copépodes e rotíferos, saiba que é muito mais fácil. Porém esse é um bônus que somente pode ser aprendido via whatsapp (por enquanto)

Se é do seu interesse se aprofundar, não deixe de entrar em contato que teremos prazer em enviar mais informações.

Nosso whatsapp é 21 98637-3126

Um forte abraço e até a próxima!


3 comentários:

  1. Excelente material. Muito bom, respondeu a muitas perguntas que eu tinha. Aguardando ancioso pela segunda parte.

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  2. Muito informativo e muito prático com este guia, muito obrigado Rodrigo

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