domingo, 12 de julho de 2020

E QUANDO SEU AQUÁRIO ENVELHECER?

       

Um aquário pode, e certamente vai, mudar ao longo do tempo. E o planejamento do aquarista deve prever essas mudanças. 


 

                                                    Sim, um dia seu aquário ficará velho.
  

Muitos aquaristas me dizem que a melhor parte de montar um aquário marinho é a montagem e a hora de povoar o tanque. Já para outros, a melhor parte é ver como o Reef se desenvolve ao longo do tempo.

Um aquário marinho certamente é um compromisso de longo prazo.

Eu frequentemente me lembro de ler artigos alemães onde eles costumavam descrever um aquário de apenas um ano como sendo novo(!) Tenha certeza: muita coisa muda no tanque com o passar do tempo. E o que eu venho descobrindo é que os hábitos e práticas dos aquaristas precisam acompanhar essa mudança.
Este artigo tem a intenção de tratar algumas considerações de longo prazo, e sugerir medidas que o aquarista deve tomar se tiver a intenção de manter um aquário por muitos anos.

Mantenha a variedade de corais baixa
 

Muitas escolhas que o aquarista toma ao projetar um novo aquário determinarão a saúde de longo prazo do sistema. Gasta-se muito tempo planejando a filtragem, o encanamento e a iluminação.

Os fóruns de aquarismo estão cheios de perguntas sobre que tipo de lâmpada é melhor ou qual skimmer é mais eficiente. Mas infelizmente, pouca ou nenhuma pesquisa é feita sobre os animais que habitarão o sistema.

O plano mais detalhado que você vai achar é alguém se perguntando se deve fazer um aquário de SPS ou LPS.

Por fim, uma vez montado, o aquário é rapidamente entupido de corais. Eles são colocados uns próximos dos outros, sem nenhuma preocupação com o espaço para crescimento ou competição entre as espécies. A verdade é que muitos aquaristas planejam seus aquários pensando em como eles querem que ele aparente hoje, ou no máximo daqui há alguns meses.

Eles não planejam o reef de forma a imaginar como ele vai ser daqui a vários anos. Eu, de certa forma, também tenho culpa no cartório; é difícil de resistir quando você vê aquele coral recém-chegado na loja. Mas a realidade é que esse coral vai crescer e competir! E as consequências negativas dessa competição não irão se manifestar por anos.

 Vou propor um desafio: Olhe para a densidade dos corais em alguma foto de recife qualquer (como aqueles que você vê em documentários). Você irá notar que há muito pouco espaço disponível, certo? Agora repare na diversidade. Notou que há muitos corais da mesma espécie (ou de espécies parecidas) crescendo no mesmo espaço?

Agora compare essa foto com a foto de um aquário marinho. Na maioria das vezes, você vai encontrar várias espécies de corais diferentes vivendo num mesmo espaço apertado. O problema desse display é que ele inevitavelmente irá resultar em uma competição entre espécies.

A competição é fonte de stress, e eventualmente, alguns corais serão mortos por outros. E o subproduto dessa briga pode ser muito danoso. No mar, existe um grande volume de água que dispersa as substâncias químicas liberas pela competição.

 

“Ao reduzir a competição, a saúde do aquário será bem melhor no longo prazo”

 

 

Outro fator que afeta a circulação/ iluminação é algo que os aquaristas se esforçam muito para conseguir… o próprio crescimento dos corais! A medida em que eles crescem, vão bloqueando áreas de circulação.

Por exemplo, imagine uma pequena muda posta perto de uma bomba. À medida em que essa muda cresce, ela pode bloquear o fluxo de água, impedindo que a circulação chegue para outros corais.

Da mesma forma, o crescimento da muda pode fazer sombra nos corais que estão abaixo dela. Algumas vezes, você irá se assustar ao ver aquele coral, que estava bonito e saudável por anos, de uma hora pra outra começar a definhar e morrer.

Então, você investiga e nota que nenhum dos peixes ou corais vizinhos parece estar irritando esse coral, nem a qualidade da água está fora dos parâmetros.

Mas talvez alguma coisa tenha mudado. Talvez algum coral vizinho tenha crescido excessivamente e esteja bloqueando o fluxo de água, bem como a iluminação.  Tenho notado que alguns SPS’s, como a Acrópora, são especialmente sensíveis a isso. A conclusão é que o sombreamento de corais vizinhos e a restrição de fluxo são também uma forma de competição dos corais!

Mantenha a Biodiversidade

Quanto maior for a biodiversidade de um sistema, mais estável ele será. Quando uma espécie no seu aquário é extinta (por exemplo, quando os copépodes desaparecem), não é só ele que morre, mas também sua contribuição para a estabilidade do sistema.

Todos os organismos têm um papel determinado no ambiente. Fato. De certa maneira, eles trabalham juntos para fazer com que tudo permaneça em equilíbrio.

O mesmo princípio se aplica ao aquário. Uma maneira de aumentar a biodiversidade é aumentar a complexidade da cadeia alimentar e da cadeia de nutrientes.

Quando o aquarista conta com diferentes maneiras de filtragem natural, como Deep Sand Bed’s, rochas vivas e refúgios repletos de macro-algas, é porque ele já entendeu a importância de manter a biodiversidade.

 Eu me lembro do tempo em que poliquetas eram a desgraça de todo o aquarista. Hoje, nós carinhosamente as enxergamos como detritívoros.  Um Deep Sand Bed não irá funcionar corretamente sem a presença de várias espécies de detritívoros, que irão digerir as partículas orgânicas maiores, de forma a tornar esse material disponível para as bactérias e organismos menores.

“Se uma população particular de algum organismo for eliminada do tanque ou refúgio, não há nenhuma maneira desses seres voltarem a popular o aquário “

 

Outros tipos de fauna também contribuem para desfazer aglutinações de bactérias e materiais inorgânicos. Existem outras “criaturas” que contribuem para a saúde do tanque ao “pastar” nas algas ou talvez servindo de comida para peixes e corais. Infelizmente, muitas delas vão diminuindo em quantidade e tendem a desaparecer do aquário com o passar do tempo – predação dos peixes e corais, competição com outras criaturas, e alguns eventos catastróficos (como uma mudança brusca de temperatura quando o chiller quebra) contribuem para que esses serem sejam extintos do aquário. Porém, existem muitas coisas que você pode fazer para aliviar essa perda de diversidade.

 Um dos métodos mais populares para isso é a montagem de um refúgio. Por definição, refúgio é uma área onde os organismos podem se reproduzir sem a interferência de predadores. Ele pode ser montado em um tanque separado ou mesmo em uma seção no sump. Hoje, já existem até fabricantes que fazem um refúgio do tipo hang-on (pendurado).

Ok, um refúgio pode aliviar o problema da predação, mas como fica o problema da competição entre eles mesmos e os eventos catastróficos?

Na natureza, existe a imigração e a emigração. Os organismos se mudam de um lugar para outro. Exemplo, se algo catastrófico ocorrer e uma população inteira de pássaros em um dado habitat morrer, as comunidades vizinhas podem ajudar a recolonizar o lugar. Já no aquário, isso não ocorre.

Apesar do refúgio imitar esse ambiente de recolonização, seu tanque ainda é um ambiente fechado.  Considere um aquário como uma ilha muito remota, completamente isolada. Se uma população particular de algum organismo for eliminada do tanque ou refúgio, não há nenhuma maneira desses seres voltarem a popular o aquário…a não ser que o aquarista tome alguma medida.

Eu pessoalmente acho uma boa prática brincar de mãe natureza de vez em quando e repor manualmente essa macro e microfauna. Muitas lojas online vendem “kits” que permitem que você reponha copépodes, rotíferos e detritívoros no seu aquário. Uma outra maneira é repor algumas peças de rochas vivas já velhas por peças recém-coletadas (devidamente tratadas e, de preferência, legalizadas).

O novo pedaço de rocha pode reintroduzir alguns organismos perdidos durante o tempo. Infelizmente, também existe o risco de introduzir seres indesejados, mas eu acho que os benefícios superam os malefícios.

Um refúgio é simples de construir e pode aumentar muito a biodiversidade do aquário.

Escolher bem os peixes também é uma boa maneira de manter a biodiversidade. Reduzir a população de peixes predatórios, por exemplo, ajuda muito. Aumentar a quantidade de comida e prover uma variedade maior da mesma também irá contribuir para sustentar a diversidade de seres do seu aquário.

Só cuidado com os níveis de nitrato! Eu vejo vários depoimentos de aquaristas que começaram a alimentar os corais com substitutos do plancton. Eles notaram um aumento em vários micro-organismos, como esponjas e microfauna.

Simule tempestades

O acúmulo de detritos em algumas áreas do tanque inevitavelmente vai acontecer, independentemente do seu esforço em manter uma boa população de detritívoros, circulação ou filtragem. Em um sistema fechado como o aquário, isso pode ser um problema. Alguns ainda sugerem que o acúmulo de longo prazo desses detritos pode levar ao aparecimento de algas.

Outros deduzem que o acúmulo pode fechar os poros das rochas vivas, reduzindo assim a área útil na qual bactérias, esponjas e outros organismos filtrantes se fixam.

Não é inteiramente certo se essas suposições são legítimas, mas eu pessoalmente acho benéfico que uma vez ou outra o aquarista simule tempestades direcionando as bombas para cima das rochas. Eu também, vez ou outra, dou uma remexida em áreas mais escondidas e estagnadas com uma pipeta. O levante de sedimentos também é uma ótima forma de alimentar os corais. Eu recomendo, porém, não levantar uma grande quantidade de sujeira.

“Nunca cave fundo no seu substrato se você tem um deep sand bed”

Isso porque o exagero pode ser catastrófico. Por exemplo, se você remexer demais o seu Deep Sand Bed, pode matar todos os seus peixes em poucos minutos!  Levantar muito sedimento de uma vez também irá liberar um grande volume de bactérias aeróbicas e micróbios na coluna d’água.

Esses organismos podem consumir o oxigênio da água e sufocar seus peixes e corais. Por fim, ainda temos o problema dessa matéria orgânica poder causar uma explosão de algas. Por isso, recomendo que você foque em jogar o jato d’água em cima das rochas somente. No substrato, faça apenas parcialmente, em pequenas áreas de cada vez. Também NUNCA cave fundo no seu substrato se você tem um deep sand bed.

Trocas de água

A importância de trocar a água é algo óbvio.  Em aquários de fish only, as trocas de água são feitas basicamente para remover o excesso de amônia, nitrito e nitrato. Entretanto, esse ato serve para diluir outras coisas além disso. Restos de comida, impurezas da água de reposição e até poeira podem se acumular se não removidas.

As trocas de água irão diluir esses elementos, bem como também o produto do metabolismo de plantas e animais, como as substâncias químicas liberadas por alguns corais moles. As trocas de água também repõem elementos não providos por aditivos e comida. Não deveria ser surpresa imaginar porque os corais tendam a se abrir quando fazemos uma TPA.

LogBooks

Um logbook detalhado se torna uma fonte valiosa de informação ao longo do tempo. Alguns eventos que ocorrem no aquário podem não ser resultados de ações recentes. Eles podem ser resultado de alguma coisa que o aquarista fez há um longo tempo atrás. Por exemplo, mudanças na alimentação, aditivos, ou a frequência das trocas podem não causar um efeito imediato nos animais. Pode-se levar meses ou até mesmo anos para que os efeitos dessas mudanças se manifestem.

Um log detalhado é uma ferramenta muito útil para diagnosticar problemas misteriosos que podem ocorrer com o tempo. Ao anotar a quantidade de itens adicionados no tanque, mudanças na luz, temperatura ou outras informações úteis, você terá em mãos as variáveis que podem ser a resposta pra aquilo que está procurando.

Conclusão

Essas são apenas algumas sugestões para ajudar a manter um aquário saudável ao longo dos anos. Tenha em mente que seu aquário vai mudar e evoluir.
Com o tempo, você poderá descobrir que de uma hora para outra seu reef não suporta mais determinado tipo de coral, não importa a quantidade de vezes que você tenta introduzi-lo.

O aquário não necessariamente irá evoluir da maneira que o aquarista quer. Por isso, é importante que você se envolva, bem como entenda as limitações do seu sistema. Também é importante que aquaristas mais experientes e com aquários de longa data compartilhem seus métodos, para que outros possam implementá-los e o nosso hobbie se desenvolva cada vez mais. Que tal compartilhar isso nos comentários abaixo?

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Tradução: Rodrigo de Mello – 10/07/2017

Nota: Este conteúdo foi originalmente publicado pela revista Reefkeeping, no texto: “Long-Term Considerations for a Successful Reef Tank”, escrito por: “RMark Van der Wal”. Link: http://www.reefkeeping.com/issues/2002-07/mvd/index.php A tradução desse conteúdo não é literal. O tradutor tomou a liberdade de contextualizar algumas frases para a realidade brasileira, bem como adicionou/ suprimiu alguns trechos consideradas irrelevantes para a compreensão do assunto de maneira geral. O objetivo sempre é dar acesso ao conteúdo da maneira mais simples e prática possível, no entanto, sem perder a essência do conhecimento passado. Embora o texto seja revisado antes da postagem repetidas vezes, o mesmo sempre estará passível de erros. Dessa forma, humildemente peço que me informem nos comentários qualquer alteração a ser feita, para que eu possa corrigi-la o mais breve possível.

Att, Rodrigo

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